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Os 5 Piores Comentários Políticos em Forma de Quadrinhos

Já falamos aqui no blog sobre duas maneiras de encarar os quadrinhos como veículos de comentários políticos. Alguns quadrinhos fizeram isso de maneira reflexiva, outros, exagerados, polemizaram demais e não conseguiram seu intento: nem de cooptar fiéis para a causa e muito menos refletir sobre a situação do mundo. E é sobre esses últimos que vamos falar agora.

71zaTz43dvLSUPERMAN: SOLO (GROUNDED), DE J. M. STRACZYNSKI, CHRIS ROBERSON E EDDY BARROWS

O ano era 2010, e Straczynski queria fazer uma versão “pé na estrada” do Superman aos moldes do que Neal Adams e Dennis O’Neil haviam feito com o Arqueiro Verde e o Lanterna Verde. Até aí tudo bem. Mas a justificativa do roteirista era a de que o Superman não era um herói global, mas sim, um herói genuinamente americano: “Para mim, Superman é e sempre será um herói da América (…) Sim, ele almeja proteger as pessoas de todo o mundo, não escolhe lados nem é exageradamente politizado, mas como o jazz e os próprios quadrinhos, ele está inexoravelmente ligado ao nosso modo de vida”.

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A série sofreu inúmeros atrasos por parte do roteirista porque queria se dedicar a outros projetos. Dessa forma, a criadora da Miss Marvel, G. Willow Wilson teve de fazer uma edição fill-in e Chris Roberson teve de assumir os roteiros sobre o argumento de Straczynski. O site Comics Alliance escolheu o arco como um dos piores do ano de 2010, justificando que as histórias não tinham razão em ser:

“Solo” está cheio desse tipo de baboseira pretensiosa e ponderada, destinado a mostrar ao leitor quão importante e reflexiva é essa história. Uma vez e outra, Straczynski insere argumentos estridentes quanto à importância do leitor encarar esse exercício inútil do Superman para resolver problemas “reais” através de afirmações claras de axiomas absurdos e aplicação generosa de força bruta e intimidação. Por isso, o quadrinho é ainda mais ridículo, por Straczynski deixar a história pela metade, antes de entregar qualquer estofo intelectual prometido pela acumulação autoindulgente”.

VILÕES CHORANDO PELO 11 DE SETEMBRO: AMAZING SPIDER-MAN #36, DE J. M. STRACZYNSKI E JOHN ROMITA JR.

ubsOknAO ano era 2001, e o mundo ficou abalado com o atentado terrorista perpetrado por Osama Bin Laden contra o World Trade Center. Geralmente, os quadrinhos se abstém de falar ou mostrar eventos que mudaram a História. Mas dessa vez foi diferente. A edição 36 de Amazing Spider-Man veio com uma capa totalmente preta, apenas com o logotipo e informações editoriais. Na edição o Homem-Aranha e os demais heróis da Marvel se veem impassíveis frente a destruição que aconteceu contra as Torres Gêmeas.

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Até aí tudo bem mas, de repente, não mais que de repente, os quadrinistas resolvem mostrar uma página splash com os vilões chorando pelos acontecimentos de 9 de setembro. O próprio Doutor Destino verte uma lágrima. E aí eu me pergunto: Victor Von Doom vei lá da Latvéria, pra ficar encarando os destroços e ficar chorando? Logo ele que já quis aniquilar a América e o mundo? Acho que existem formas melhores de mostrar o impacto de uma guerra ou uma destruição do que colocar supervilões que querem a destruição total vertendo lágrimas. Ai, ai, Strazza… Assim você me mata!

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ANARQUIA EM GOTHAM, DETECTIVE COMICS #608, POR ALAN GRANT E NORM BREYFOGLE

Detective_Comics608O ano era 1989, e o quadrinho de V de Vingança era finalmente publicado na íntegra nos Estados Unidos pela DC Comics. Não satisfeita com isso, logo a editora das lendas tinha um personagem cuspido e escarrado em V, que se tornaria um dos grandes inimigos do Batman. Ele era o – atenção para o nome sensacional – Anarquia! Inicialmente, o personagem seria retratado como um jovem violento, mas altamente inteligente, que comete assassinatos bem elaborados em nome de uma causa maior. A ideia foi rejeitada e Anarquia então foi convertido em um jovem violento, porém não-letal. Então, passaram a projetar Lonnie Machin para ser o novo Robin, no lugar do então falecido Jason Todd. A ideia foi descartada quando Marv Wolfman criou Tim Drake.

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Anarquia tornou-se popular principalmente em países de língua espanhola, pelo fato de a maioria destes países ter experimentado severas repressões militares, uma das motivações para o surgimento do personagem. O problema de tudo isso, entretanto, é a retratação de um vilão anarquista como um garotinho de 12 anos. Isso, inadvertidamente reflete – apesar de Alan Grant afirmar que ele é um anarquista – o discursos das mídias de junho de 2016 no Brasil. De que todos os anarquistas são jovens “vândalos, vândalos, vândalos”. Dessa forma, diferente de V de Vingança, o comentário anarquista se perde e se torna inócuo.

HOLY TERROR! (TERROR SAGRADO), DE FRANK MILLER

HOLY TERROR - TERROR SAGRADO.inddDessa vez, o ano era 2011, auge da Guerra do Iraque, promovida por George W. Bush. Frank Miller tinha a idéia de desenvolver uma história do Batman, chamada Holy Terror, Batman! (Santo Terror, Batman! – em alusão às expressões do Robin no seriado dos anos 60). A sua ideia era fazer uma propaganda de guerra contra a Al-Qaeda da mesma forma que os quadrinhos de heróis serviram às Forças Armadas durante a Segunda Guerra Mundial. Miller chegou a declarar na San Diego Comic-Con daquele ano: “Eu fui criado católico e eu poderia contar muito sobre a Inquisição Espanhola, mas os mistérios da Igreja Católica me escandalizam. E eu poderia te contar muito sobre a Al-Qaeda, mas os mistérios do Islã me escandalizam também”.

Holy Shit, Batman!

Holy Shit, Batman!

Diferente de fazer um quadrinho reflexivo, Terror Sagrado era uma incitação da islamofobia e da violência contra as minorias. Por essa razão a DC Comics vetou a publicação do quadrinho pouco tempo antes dele ficar pronto. Sobrou para Miller substituir o Batman por um herói qualquer e acabou publicando o quadrinho pela editora Legendary Comics. A Panini Comics publicou essa “pérola” aqui em 2013. Vale dizer que a DC já havia publicado outra edição chamada Batman Terror Sagrado em 1991, por Alan Brennert e Norm Breyfogle.

O IMPÉRIO SECRETO, CAPTAIN AMERICA AND THE FALCON #175, DE STEVE ENGLEHART E SAL BUSCEMA

3074375-captainamerica176Por fim, aqui o ano era 1968, o escândalo do Watergate iriam em breve abalar os Estados Unidos. Garganta Profunda iria entregar Richard Nixon para o FBI e todo o glamour do american way, já abalado pela Guerra do Vietnã, cairia por terra. Steve Englehart era um desses hippies que queriam o fim da guerra que só matava jovens americanos e não solucionava confronto nenhum. Ele já escrevia as histórias do Capitão América por um bom tempo. Nelas, ele introduziu uma seita chamada O Império Secreto, pessoas protegidas por longas vestes e capuzes roxos, lembrando em muito as vestimentas da Ku Klux Klan, a famosa seita exterminadora de negros dos Estados Unidos.

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Ao final da história, Steve Rogers está prestes a desmascarar o líder da seita, quando ele chega ao salão oval da Casa Branca, o líder da seita se desmascara para ele e se mata com um tiro na cara. Mesmo que a figura e o semblante do líder não seja revelado na história, é fácil deduzir de que o líder do Império Secreto era Richard Nixon, embora isso não pudesse nem ser mostrado e nem dito na história, pois o republicano ainda estava no poder. A consequência disso faz Steve abandonar o uniforme de Capitão e passar a atuar como o Nômade.

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Naquela época, essa provocação poderia passar tranquilamente, afinal ninguém dava muita bola para os quadrinhos e não havia uma “patrulha da moral e dos bons costumes” formada por “cidadãos de bem” dispostos a “corrigir” a sociedade. Mas imagine se isso fosse hoje e existisse uma seita secreta que exterminava latinos e muçulmanos e, no final, o Capitão América entrasse no salão oval da Casa Branca e o líder se matasse. BOOOM!  A internet rachava no meio. Ainda mais que sabemos que Donald Trump é high internet user – ainda que o faça de maneira estranha. Uma história desse tipo nos dias de hoje seria o equivalente a um ato de guerra civil. A batalha entre Tony Stark e Steve Rogers seria fichinha…

E vocês, mergulhadores, que acham de tudo isso? Concordam, discordam? Acham que tem um outro bom exemplo de mau comentário político? Não deixem de escrever para nós! Saturnino de Brito, 2222 Jardim Botânico Rio de Janeiro-RJ CEP 21021. Não, pera, esse é o endereço da Xuxa… Droga! Beijinho, beijinho e tchau, tchau!

6 comentários

  1. a quinta história é ruim? sempre ouvi falar super bem dela…

    a primeira do SH dizem que tem algumas passagens boas, mas que em geral é ruim mesmo.

    holy terror é triste…

    abraço!

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      • Guilherme Smee diz

        Bom, Jamal, listas são assim, nem todo mundo concorda. Se nem com pesquisas as pessoas se agradam com os resultados, quem dirá com listas, que são ainda mais subjetivas. Espero que nos perdoe, pois nem sempre é possível agradar a todos. Abraços! =)

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    • Guilherme Smee diz

      Então, Rodolfo, não é questão de a história ser boa ou ruim, mas de utilizar bem ou mal os elementos políticos a que se propõe. A ideia, como no Solo, pode ser muito boa, mas se é mal executada, fica a desejar… No caso do Capitas, a história foi bem executada, mas a ideia final deu uma escorregada, até porque Nixon não morreu no Universo Marvel naquela época como a história sugeria. Além de um problema político também causa uma incongruência histórica com personagens ligados à Guerra do Vietnã como o Justiceiro. Abraços! =)

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  2. Acrescentando:
    Esse grupo:
    “patrulha da moral e dos bons costumes” formada por “cidadãos de bem”
    também era conhecido por “Associação dos pais desocupados da América”. Com a modernização das mídias eles variaram seus alvos: HQs -> Filmes -> Videogames

    Voltando ao foco do post, é muito triste quando esses escritores deixam a imparcialidade, pelo motivo que seja. Fazer uma história contra o terrorismo é uma coisa, rotular uma religião é outra. Também achei um exagero colocar o Nixon como líder de uma organização secreta. A verdade é que Nixon sempre foi um vilão, sem usar máscara, toga ou capuz… Ops! Perdi a imparcialidade…
    Parece que essas coisas acontecem mais facilmente do que se pode simplesmente imaginar.

    Eu estou até agora imaginando o Batman espancando a Al-Qaeda… Logo um herói tão cheio de virtudes se mostrando intolerante…

    Ah, desculpa, acho que fiz considerações demais. Desculpe, o trabalho é seu, não meu. Mas me deu muito pano pra manga. Ou melhor, me deu muito o que pensar.

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    • Guilherme Smee diz

      Bier, vou te dizer uma coisa: imparcialidade e neutralidade non ecxizisten. Mesmo tu tentando não te comprometer, tu te compromete de alguma forma. Por isso, nenhum problema em tu comentar o quanto tu quiser, contanto que não ofenda ninguém no processo, vai ser sempre bem-vindo! Abraços! =)

      Curtido por 1 pessoa

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