Análises, arte, atualidades, destaque, fique de olho, quadrinhos, Quadrinhos Comparados
Comentários 17

Quadrinho Nacional: Artigo de Luxo ou Espécie em Extinção?

Nessas últimas semanas o “mercado” nacional de quadrinhos foi surpreendido com várias publicações nacionais com um número grande de páginas e um preço acima do comum que é praticado para esse tipo de publicação. Em face disso, vim trazer essa discussão, tentando abordar diversos aspectos que tornam essa realidade possível. (?) E tentar entender as dinâmicas desse “mercado” que se coloca ao mesmo tempo como artigo de luxo e como espécie em extinção.

QUADRINHO NACIONAL X QUADRINHO ESTRANGEIRO: PORQUE UM É MAIS CARO E OUTRO É MAIS BARATO?

Sabemos que não estamos vivendo o melhor dos cenários econômicos no nosso país, embora os noticiários queiram nos empurrar que a economia do país está melhorando. Eu, você, e todo mundo que rala pra se manter, sabe que essa não é a realidade do bolso do brasileiro. Sabemos também que livros e quadrinhos são um item de consumo supérfluo (embora para eu, você e todo mundo que ama quadrinhos, seja um item de sobrevivência). Sendo considerado um item de consumo supérfluo, quer dizer que não está acessível para a grande maioria da população.

LUXmanor

Enquanto isso, na Mansão Wayne…

Sabemos também que quadrinhos estrangeiros com o mesmo formato e mesmo número de páginas praticam preços muito mais acessíveis e menos “monstruosos” para o público final. Sabemos também, que para a maioria dos colecionadores o quadrinho nacional é tido como uma consumo supérfluo, uma vez que nosso “mercado” não atingiu um patamar tal que os quadrinhos feitos aqui sejam os primeiros colocados da preferência do público, mesmo o público interno. Portanto, o quadrinho nacional é um produto supérfluo do supérfluo. Então porque tentar deixar o seu consumo ainda mais restrito a nichos praticando preços inconsistentes com a realidade? Esse fator, a imaturidade do consumo de quadrinhos nacionais, um nicho que está começando bem aos poucos a se tornar real, faz com que as pessoas virem a cara quando um quadrinho nacional é caro demais. É que faz as pessoas pensarem e eu posso ler nos seus pensamentos em grupos de Facebook: “Quem essas pessoas pensam que são para cobrar esse quadrinho os olhos da cara se nem uma publicação do Moebius custa tanto?”.

LUXmansao

Lux Luxo. 10 entre 10 divas usam.

Você pode argumentar: “Mas são os direitos autorais, quando uma publicação é impressa pela primeira vez, eles são mais caros”. Não. Direitos autorais incidem no máximo 20% do preço final de um quadrinho. A distribuição é que come mais do preço, 55%. Mas nesse caso pode ser uma falha de planejamento editorial. Um editor tem noção de quanto uma publicação mais extensa custa, quanto uma tiragem menor pode incidir no preço final, sabe quais porcentagens vão para cada parte do processo de feitura de uma HQ. É, preciso, portanto, controlar essas variáveis para que o produto não se configure num fracasso ou num encalhe, ou ainda, que o preço seja tão exorbitante que cause estranhamento e afastamento dos leitores, causando, assim, uma opinião generalizada negativa sobre o produto.

LUXlivro

O livro de ouro dos quadrinhos supérfluos.

O “FATOR AMAZON”: UM BENEFÍCIO OU UM MALEFÍCIO PARA A INDÚSTRIA?

Por fim, temos o “fator Amazon”, que não sabemos se é um benefício ou malefício para a indústria. Para o consumidor final, sim, é um benefício com certeza. Mas e se os preços final das HQ passarem a serem “maquiados”, para que sejam vendidos pelo seu preço “real” na Amazon? Afinal, sabemos que em novembro, o presidente da Amazon ficou ainda mais rico atingindo uma fortuna de 100 milhões de dólares na sua gorda conta. Sabemos também que desde que aportou no Brasil, a Amazon se tornou o principal canal de compra de livros, mas principalmente de quadrinhos no Brasil, causando o fechamento das livrarias FNAC em nosso país e levando outras livrarias como Saraiva e Cultura a repensarem suas estratégias de venda física e online. Aqui em Porto Alegre, a Livraria Cultura extinguiu sua sessão de CDs e música e colocou no lugar uma mirabolante papelaria. Portanto, é possível que as editoras, de olho no “fator Amazon”, estejam ampliando seus preços.

LUXbatman

Breakfast in Tiffany’s.

Embora uma boa teoria, sabemos que o preço final da Amazon pouco tem a ver com o que as editoras decidem. O que sabemos é que a Amazon compra uma quantidade x de livros de uma editora a um preço combinado. Os preços finais praticados dependem única e exclusivamente da loja virtual. O que sabemos também é que antes da vinda da Amazon, as grandes livrarias brasileiras estavam praticando um tipo de “chantagem comercial” com as editoras, devolvendo livros já comprados e exigindo o dinheiro de volta, uma prática bem comum da FNAC, por exemplo. Muitas livrarias como a Cultura e a Saraiva, pararam de comprar lotes de livros e passaram a trabalhar com consignação (quando os livros que não são vendidos são devolvidos).  Isso não é segredo e nem informação privilegiada, uma vez que foi noticiado em sites sobre edição de livros como o Publishnews e em portais de notícias como o UOL. Portanto, a Amazon se tornou um benefício tanto para a indústria como para o consumidor final, uma vez que a empresa realmente compra lotes de livros e pratica promoções para o consumidor final.

UM “MERCADO DE LUXO” OU UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO?

Ao mesmo tempo, existe uma demanda para tornar os quadrinhos um “mercado de luxo”, trazendo capas duras, hot stamping, papel “de luxo”. Eu me lembro que quando eu comecei a ler quadrinhos, o que era considerado uma “minissérie de luxo”, eram aquelas que trazem papel couchê. O que as pessoas que denominaram esse tipo de minissérie nos anos 90 iriam achar das publicações que temos hoje em dia? “Publicações inalcançáveis”? Os quadrinhos estão se tornando ao mesmo tempo um artigo de luxo, sendo empurrados dessa maneira pelas formas de publicação das editoras e pelos preços praticados pelas mesmas, se transformando pouco a pouco numa espécie em extinção a que pouquíssimos terão acesso, mesmo que o conteúdo veiculado neles possa ser considerado “popular”.

LUXthing

“Você não parece chateado!”

Por outro lado, existem os quadrinhos independentes, bancados pelos próprios autores, que precisam daquele dinheiro investido nas suas próprias publicações para se manter. O irônico é que artistas vindos do meio underground e independente agora surgem com publicações de luxo, sendo que sua vibe sempre foi a contracultura. Seria isso uma contracontracultura ou os revolucionários se rendendo às lógicas do mercado e produzindo algo que vai contra seus princípios simplesmente para desestabilizar as cabeças das pessoas como faziam nos anos 80?

Fui criticado ao sugerir em grupos de redes sociais de que se essas publicações fossem trazidas em três ou mais edições separadas seriam mais acessíveis. Os puristas disseram que não queria ver uma publicação picotada e que queria lê-las na íntegra. Mas esse é um pensamento elitista que não vai salvar a indústria dos quadrinhos e nem o “mercado” nacional. Quanto mais restrito for o público a que uma edição se dirige, menor vai ser seu alcance e menos chances os quadrinhos terão de conquistar novas pessoas para suas fileiras e consumo.

Eu mesmo, vou deixar de comprar quadrinhos que eu acho maravilhosos, de autores que eu gosto muito, que acho que são grandes exemplos de carreira, de conteúdo, de desenhos e tudo mais, por causa do formato editorial e do preço praticado. A não ser, é claro, que eu encontre alguma promoção na Amazon. E aí a lógica da compra de um quadrinho descamba não para a qualidade de seu conteúdo ou do artista envolvido, mas se “estiver em promoção na Amazon”. A que ponto chegamos, não é mesmo…? Isso faz a gente pensar e refletir bastante sobre o que estamos comprando, de quem estamos comprando e qual a nossa responsabilidade no processo para o bem ou para o mal da continuidade das publicações brasileiras de quadrinhos.

 

por

Guilherme “Smee” Sfredo Miorando nasceu em Erechim em 1984. É Mestre em Memória Social e Bens Culturais, onde pesquisa quadrinhos e sexualidades. É especialista em Imagem Publicitária e bacharel em Publicidade e Propaganda. Ministra aula de quadrinhos e trabalha com design editorial e roteiros. Já trabalhou em museus e com venda de livros e publicidade. É pesquisador associado do Cult de Cultura e da ASPAS (Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial). Faz parte do conselho editorial da Não Editora. Co-roteirizou o premiado curta-metragem Todos os Balões vão Para o Céu. Seu livro de contos Vemos as Coisas como Somos foi selecionado pelo IEL-RS em 2012. A partir de 2014, publicou ao menos um quadrinho independente por ano. Loja de Conveniências, sua primeira narrativa longa foi lançada em 2014. Em 2015 participou da coletânea de HQs LGBT Boys Love. Em 2017 colaborou com o quadrinho A Liga dos Pampas de Jader Corrêa, que explora mitos gauchescos. Também lançou Desastres Ambulantes em parceria com Romi Carlos, um quadrinhos sobre segunda guerra mundial e OVNIs, que foi selecionado pelo edital estadual PROAC/SP. Em 2017, publicou Abandonados Pelos Deuses: Sigrid, com Thiago Krening e Cristian Santos e também Fratura Exposta: REDUX com Jader Corrêa. Também escreve os roteiros para os super-heróis portoalegrenses Super Tinga & Abelha-Girl. Mantém o blog sobre quadrinhos splashpages.wordpress.com há mais de 10 anos.

17 comentários

  1. É um conjunto de coisas erradas. Autores que se acham demais, amadores querendo lugar ao sol sem deixar de serem amadores, ausência de leitores (isso pra mim é o mais grave), cultura editorial ruim (isso desde sempre), eventos que não ajudam no fim das contas, acho que posso até colocar sites de financiamento coletivo como algo ruim e claro, tem a distribuição, que dá sinais que vai mal, olhando pros quadrinhos no caso. No meio disso tem a galera que tá tentando viabilizar suas histórias, nem sempre com sucesso. Sem uma mudança na mentalidade dos artistas, editores e distribuidores, acho difícil a gente sair desse círculo vicioso.

    Curtir

    • Guilherme Smee diz

      É bem complicado! Uns se valorizando demais e outros de menos… (ou sendo valorizado demais e os outros de menos). Eu enquanto artista independente sigo tentando, tentando e batendo com a cabeça até aprender e ajudando os outros sempre no processo, dando apoio e criticas construtivas e não sofrendo de síndrome de Suzana Vieira (não tenho paciência pra quem tá começando (sic)) como muitos por aí. Obrigado pelos comentários! Abraços! =)

      Curtido por 1 pessoa

  2. Guilherme, tudo bem?

    Gostei do seu texto, mas fiquei com algumas dúvidas ou discordei em alguns pontos.
    1.Por que você considera que “três ou mais edições separadas seriam mais acessíveis” do que edições mais luxuosas e fechadas? Claro que o valor individual é mais barato, mas que alcance tem um periódico de um quadrinho independente brasileiro, num formato simples? Não é largamente distribuído em bancas nem muito em comic shops, não compete com o material das grandes editoras aos olhos do público. Será que vai ser bem recebido/vai vender bem por causa do preço? Qual é o público que se quer atingir? Se for vendido online, não vai pesar na escolha do consumidor o quanto de frete ele vai ter que pagar a cada edição que encomendar?
    2.Quanto a “Quanto mais restrito for o público a que uma edição se dirige, menor vai ser seu alcance e menos chances os quadrinhos terão de conquistar novas pessoas para suas fileiras e consumo.” eu
    concordo com essas consequências mas não acho que o o público se restrinja por virar artigo de luxo, pelo contrário, acho que o acabamento atrai e muito novos consumidores, especialmente pela Internet, e vejo no financiamento coletivo um ótimo meio para viabilizar projetos e alcançar um público maior para um produto de mais qualidade. Claro que tem limite, o Castanha do Pará, vencedor do Jabuti só a 67 reais e meras 80 páginas apenas na Amazon é inviável pra nossa realidade. Não é pra pouco que não vi ninguém comentando
    em blog, rede social, canal no YouTube etc até agora. Mas já vi materiais interessantes de 100 páginas a 40, ou de 60 a 24 com bons acabamentos (e frete incluso ). É mais viável e é claro que a gente tem que levar em conta o lado do artista, não tenho como exigir que alcancem preços da Panini que vende em maior escala e muito menos promoções na Amazon. Também tem que um periódico aqui no Brasil em formato físico às vezes é difícil vc saber se a história vai continuar, até onde vai e se o projeto vai vingar. Uma história fechada em poucas edições me soa bem mais atraente como consumidor.
    3.Não entendi pq vc vê o financiamento coletivo como algo ruim.
    4. Não vejo o menor problema do quadrinho independente ser diferente do “Underground” dos anos 80. Muito pelo contrário, eu acho importante que tome novos rumos, atraia mais gente e diversifique o mercado. Afinal, quantos na época podiam viver de quadrinhos e quantos faziam como hobby/extra? Talvez essa transformação em “artigo de luxo”, claro que com a devida moderação nos preços (mas isso os próprios consumidores vão definir se acham que vale a pena ou não), faça com que mais artistas possam dedicar mais tempo a produzir quadrinhos e isso traga um maior reconhecimento pro mercado nacional.
    Não sei se estou sendo ingênuo ou interpretando algo errado, isso tudo que eu disse é apenas meu ponto de vista como leitor e consumidor há alguns anos.
    Abraços!

    Curtir

    • Guilherme Smee diz

      Oi Edu! Obrigado pelo comentário e principalmente por discordar de mim com respeito, algo que é raro na internet e que louvo quem consegue fazer. Bem, quero começar dizendo que esse foi um artigo/post de opinião e que reflete só os meus achismos pela minha experiência como consumidor e produtor de livros e quadrinhos. Como toda opinião, está longe de ser uma verdade universal e longe de estar livre de posicionamento. Dito isso vamos às tuas questões:
      1) Eu acho que é da minha experiência de compra. Por exemplo o Scott Pilgrim da Cia das Letras: sempre soubemos que seriam 3 edições e saíram as três edições a preços módicos. Claro que um quadrinho produzido aqui, se tivéssemos dividido em três edições, talvez nunca se completasse, é um risco também. (Aliás o que não é um risco em se tratando de produção de HQ nacional?). No caso de um períodico em quadrinhos, imagino que o ideal seja uma numeração fechada (1, 2 e 3 por exemplo). Já vimos que quadrinhos como o Imaginários em Quadrinhos e livros como o Ficção de Polpa que ajudei em parte na realização não se sustentam por números. Por isso, a Draco foi para as edições temáticas, assim como o Ficção de Polpa que ganhou subtítulos. Ou ainda, os filmes, cujas sequencias não são mais 1, 2 e 3, mas sim com nomes das aventuras. Qual é o público que se quer atingir é uma boa pergunta. Eu também não sei, hahaha! Venda online da Amazon, a partir de 99 reais não paga frete. Todo mundo acumula suas compras pra não fazer isso, ou espera promoções em que não se paga frete. A não ser, claro, que esteja muito “sedento” pela edição… =P
      2) O Castanha do Pará, realmente, eu só ouvi falar no Jabuti mesmo. E olha que tento me manter bem informado sobre os lançamentos de quadrinhos no Brasil. Nem sabia dessa questão preço dele. Mas é aquela velha história dos 4P’s do Marketing, lá do Tio Kotler 3.0: preço, praça, produto e promoção. Se atingir todos esses pontos, o produto será um sucesso. Produtos que eu nomeei de luxo enchem os olhos, mas esvaziam os bolsos. Se não estivem disponíveis nas praças, não vai ter como o consumidor ter acesso a eles. E a promoção está representada pela nossa queridjeenha Amazon, cuja discussão abordei no post. Mas também não é só isso que é a promoção: ela é boca-a-boca, ela é relação do autor com o público, relação da editora com o público, divulgação do produto, das promoções do produto, das promoções dos autores e das editoras, várias variáveis como diria o Gessinger. Portanto, um produto que cumpre somente o P do produto, talvez esteja falhando nos outros 3. E quanto a periódicos concordo contigo, tanto que já tinha me antecipado lá em cima. 😉
      3) Ueh, acho q não falei mal de finaciamento coletivo. Acho que nem falei disso. Super apoio financiamento coletivos, inclusive já apoiei umas 15 campanhas no Catarse. Só que não é pra qualquer um. Tem que saber ser chato sem ser pra que um crowdfunding de certo. Já tentei financiar quadrinhos coletivamente e descobri que só sei ser chato mesmo. E nisso eu tenho uns sete diplomas. Mas reverencio quem faz crowdfunding e consegue atingir as metas. Felipe Cagno, Gustavo Duare, Cris Peter são deuses da popularidade nesse quesito e devem ser aplaudidos e case de estudo pra todos nós.
      4) Na verdade eu não entendo o posicionamento dos artistas undergrounds dos anos 80 ao fazer uma publicação luxuosa dessas. Talvez lendo ela eu compreenda, mas vai demorar pra eu por as mãos nela. =P (espero q eu morda a língua!). Mas Edu, assim, pra um artista poder dedicar um mês pra desenha 30 páginas de quadrinhos sem ter retorno nenhum financeiro já é um baita dum sacrifício, só pra ver o seu sonho de ter um quadrinho publicado, eu não vejo como artigos de luxo possam contribuir nesse sentido. Só vão elevar o patamar pro pobre desenhista da periferia que tem o sonho de ter sua publicação própria ter que concorrer com álbuns luxuosos e dinheirudos. O fanzine quase não tem mais espaço hoje em dia em feiras de quadrinhos, todos já se profissionalizaram pelo menos na impressão da gráfica. Vejo muitos quadrinhos desconhecidos sendo impressos em capa dura apenas pra brilhar olhinho de newbie. Tenho medo que daqui alguns anos, todos teremos de imprimir nossa primeiro quadrinho em capa dura para se posicionar no mercado. E quem vai me garantir que todo meu investimento em acabamento gráfico vai retornar pra mim? E quem vai garantir ao leitor que capa dura é sinonimo de qualidade?
      Eita! Quase fiz outro post aqui. Mas adorei teu comentário, educado e questionador, se continuar com dúvidas sobre minha ideias, pode perguntar, porque elas podem mudar de hoje pra amanhã. 😉 E te convido a comentar sempre que quiser aqui no blog! Seja bem-vindo! Abraços! =)

      Curtido por 1 pessoa

  3. Olá Guilherme, saudações. Seu texto me trouxe um questionamento essencial (que traz uma pergunta secundária, a reboque): 1] de que “várias publicações nacionais com um número grande de páginas e um preço acima do comum que é praticado para esse tipo de publicação” você fala? E 2] como um leitor hipotético vai poder opinar (com um mínimo de senso de propriedade) sem saber de que publicações você fala, num texto cheio de imagens de super-heróis? Obrigado.

    Curtir

    • Guilherme Smee diz

      Olha, Diego, aprendi a duras penas que não se cita nome de pessoas estabelecidas no quadrinho nacional.
      Mas tu sabe quais são, ao menos uma. Acho o trabalho dos artistas venerável, adoro todos eles, adoro os trabalhos deles, tenho muitos na minha coleção, reconheço e muito seu serviço pra o Brasil e o quadrinho nacional, se pudesse dava um abraço coletivo em todos, mas infelizmente, a minha situação financeira (e de muitos num Brasil em crise econômica) não permite que eu compre esses quadrinhos, pelo menos não agora. (Amazon, quem sabe?)
      Estava louco pra ir no lançamento de um deles aqui, mas, infelizmente a coisa tá braba ainda mais pra quem é independente e tá prestes a ir na CCXP (até mesmo pra pegar um ônibus e ir pra lá).
      Eu adoraria citar nomes e colocar imagens dos quadrinhos, mas já levei uns puxões de orelha e chapoletadas por fazer isso e não quero me arriscar mais fazendo isso (o Batman está ali porque ele tem dinheiro pra comprar todos os quadrinhos, não importa o preço. Achei melhor colocar ele do que deixar sem imagem).
      Tu, como quadrinista independente sabe que nossa situação não é fácil. Gosto muito do teu trabalho e outro dia passei uma capa tua como referência para um amigo.
      Daí o questionamento. Talvez eu não seja mesmo o público dessas publicações, que adoraria ler e ter na minha casa, estante (que nem tenho mais). Estava bem ansioso para o lançamento dela,
      Vi os principais quadrinistas na TV, aplaudi e dei risada junto com eles, mas quando vi o preço me caiu os butiá do bolso, como dizemos aqui. De qualquer forma, sendo um quadrinho nacional ou um “importado”, como as tais Antologias da Panini, o preço alto sempre afasta as pessoas, certo?
      Mas essa é a minha opinião e, ao fim e ao cabo, não conta muito na compra ou não compra das pessoas, uma vez que nem o nome das publicações eu citei (por medo de mais uma ameaça de processo).
      De qualquer forma, convidei por volta de cem amigos para o evento organizado no facebook de lançamento do dito quadrinho. Então, por mais que eu ache estranho o preço, valorizo o trabalho dos artistas e quero que eles sejam valorizados e divulgados como merecem e por tudo que fazem pelos quadrinhos no nosso país, tão desmoralizado hoje em dia, que nem uma tirinha no jornal chega aos pés de tanta piada pronta.
      De novo: não é uma crítica aos artistas, mas às práticas do mercado e uma preocupação de onde essas práticas nos levarão no futuro.
      Não quero brigar, quero questionar, desconcertar, só isso, como faz a boa política queer.
      Abraços! =)

      Curtir

  4. Olá Guilherme, li o seu texto acima e fiquei curioso: o que pode acontecer se num texto como este você citar nomes de pessoas envolvidas com o quadrinho nacional e colocar imagens dos quadrinhos deles? E por quê?
    Até mais!

    Curtir

    • Guilherme Smee diz

      Não é apenas citar nomes e colocar imagens, são algumas opiniões e posicionamentos. Se eu falar bem, não tem problema algum. Podem incidir em calúnia e difamação. Sempre é delicado criticar quadrinho nacional: uma pelos nomes envolvidos e outra por serem artistas iniciantes e uma crítica desconstitutiva pode minar uma carreira. Resumindo, as pessoas não sabem lidar com críticas e a crítica não sabe criticar, eu inclusive nos dois casos. Mas sabe como é: gato escaldado tem medo de água fria. Então saem essas críticas enviesadas, porque é só o que tamos podendo. Ficamos, então, entre a crítica que queremos e a crítica que podemos ser… E olha que já vi comentários em notícias de quadrinhos meus e de outros artistas do tipo: “ninguém se importa”, ou “não faz diferença” ou “tudo porcaria”. Mas existe uma grande diferença entre crítica e comentário. Brasil não existe crítica especializada. No máximo o UHQ. =/ Abs! =)

      Curtir

  5. Oi Gui, tudo bom? Me pego pensando muito neste advento da Amazon no Brasil, muito mesmo. Confesso que não consumo quadrinhos brasileiros, tenho só alguns, e foram presenteados, e não comprados. Ainda assim, o impacto da Amazon aqui foi uma coisa fora do comum. O Brasil é um país antigo, que demora a se modernizar, vemos isso através da publicidade, que só agora está caminhando, depois de anos no limbo criativo, ou do jornalismo, que está complemente perdido entre Cidade Alerta e Ego. Logo, uma iniciativa tão incrível como a da Amazon vir para cá traria logicamente um choque, porém não achava que seria tanto.
    Quando ela chegou, me lembro bem, eu lia quadrinhos online, principalmente, pois estava desempregado e sem condições alguma de comprar qualquer material, fosse mensal ou encadernado. Quando voltei a comprar o físico, foi na época de lançamento de Mulher-Maravilha do Brian Azzarello em encadernado capa dura, ao preço de 22,90. Alguns meses depois o mesmo viria a esgotar, e uma reimpressão traria ele com o mesmo número de páginas, porém ao preço de 22,90. Foi nesse ínterim que o “efeito Amazon” se instalou, e eu só percebi quando saiu o segundo volume do mesmo, por mais de trinta reais! Ou seja, foi rápido, foi certeiro, assertivo e acertado! Mas é evidente que o valor de trinta e tantos reais cairia numa promoção da Amazon, da Saraiva, da Fnac…
    Esse ano me assustei ainda mais com o tal efeito Amazon. Mesmo com quadrinhos saindo a valores mais altos, como o Aquaman, cujo primeiro saiu a vinte e pouquinhos e o terceiro a quase 40 reais, tomei um susto quando foi lançado o encadernado da Arlequina com a capa do Alex Ross. Custando mais de 60 reais por meras 200 páginas, sendo que o mesmo terceiro volume de Aquaman com o mesmo número de páginas tinha saído por 20 reais a menos!!!
    E essa é a prática das editoras brasileiras agora, seja de quadrinhos ou de livros literários, aumentar o preço em dobro, para a Amazon vender com 40% de desconto. Uma indústria tão boa, que engrandece tanto o ser humano com seus produtos, acabou de se concretizar como artigo de luxo. Quem na favela vai conseguir comprar um livro? Até mesmo eu, que não moro em uma, não consigo com a maior facilidade do mundo. É algo realmente triste.
    E eu, mero consumidor, me vejo comprando edições importadas com o mesmo conteúdo por 80% do valor de uma edição brasileira. É aquela velha história né, a sobrevivência do mais forte!

    Curtir

    • Guilherme Smee diz

      Olha, Lucas, o efeito Amazon é uma teoria, mas que eu não corroboro. O preço do encadernado da Arlequina que tu citou é o preço praticado e posso até dizer que mais barato que o normal. Por enquanto ainda não é possível dizer que exista um efeito Amazon, mas é seguro dizer que as livraria físicas já fizeram movimentos para boicotar a venda online principalmente da Amazon, com uma lei que impedia as livrarias de venderem lançamentos com mais de 10% de desconto ou com qualquer desconto um ano após o lançamento. Quem perde com esse mercado canibal não é Cultura, não é FNAC, não é a Amazon, nem mesmo o consumidor perde tanto quanto as livrarias de bairro, que não pertencem à grandes redes e estão aos poucos falindo e se exteinguindo. Isso sim é pra chorar, não o efeito Amazon. Porque geralmente são as livrarias de bairro as que mais apoiam os autores e cedem espaço para ele falar sobre sua obra e manter um círculo de leitores. Gigantes do mercado não querem saber de leitor, de consumidor nem de editora. Eles querem é abocanhar quanto mais grana melhor. No fim todos perdem, e perdem muito. E não só grana. Não me entenda mal, muitos preço praticados estão bem dentro da realidade do mercado, alguns me apavoram, mas aí sou eu, e sou mais um peixe nesse cardume. Quem é piranha são as grandes corporações como sempre foram. Abraços! =)

      Curtir

      • Concordo em partes, Gui! Concordo que a precificação de Arlequina esteja dentro dos preços do mercado, mas mesmo entre produtos similares, fica clara a exorbitância. E concordo muito plenamente que quem mais será afetado será o bom e velho jornaleiro. Eu bem tento comprar nas bancas aqui da redondeza, principalmente nas menores, sempre que possível. E publicações como Aquaman e Mulher-Maravilha, como as que eu citei, procuro comprar em banca. Mas algumas com valores altos, como Sandman e encadernados maiores, fica impossível. E é muito triste o caminho que estamos trilhando, no qual a indústria dos quadrinhos está maior do que jamais foi, graças ao cinema, porém ainda está restrita a um nicho muito selecionado, e como você bem colocou, os quadrinhos brasileiros são ainda mais nichados. Infelizmente =(

        Curtir

  6. Eu sou do time da acessibilidade, na Tirinhas do Lucão, minha hq q reune tiras de humor, busquei fazer algo flat e acessível, desde a editoração até a impressão, esta foi minha visão.
    O mercado de quadrinhos esta em expansão, acredito q os quadrinistas independentes devem pensar de maneira empreendedora e comercial para o seu público final em relação ao seu material, com acessibilidade podemos atingir maior publico e assim expandir mais rapido este mercado novo q é o quadrinho nacional.

    Curtir

  7. Leo Santana diz

    Olá Guilherme,
    Parabéns pelo texto. Não sei se consegui alcançar o que você pretendia falar por falta de exemplos mais concretos. as vezes imagino que refere-se a uma coisa, mas nem sempre tenho certeza.
    Ao invés disto, gostaria de lhe propor uma nova matéria: quais os quadrinhos nacionais atuais que tem o melhor custo-benefício. ou seja aqueles que são bons e ainda tem um preço acessível. Além do preço, dava para falar por que eles são bons.
    Outra coisa: se eu quiser mandar meus quadrinhos para você avaliar, devo mandar para onde? Se quiser me responder em pvt, meu e-mail é leo.santana.hq@gmail.com

    Curtir

    • Guilherme Smee diz

      Oi Leo, faço reviews de quadrinhos todos os meses com pelo menos dez leituras em destaque. Geralmente incluem Hqs. Mas vou pensar na sugestão e se der pano pra manga, publico. Vou te mandar um email respondendo! Abraços!

      Curtido por 1 pessoa

Deixe um comentário, caro mergulhador!

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.