Mês: julho 2013

Superman e a Santíssima Trindade – O Espírito Santo, por Neil Gaiman.

O Evangelho Segundo Jesus Cristo. O Espírito Santo, por Neil Gaiman. Publicado em Superman/Green Lantern: The Legend of Green Flame (2000). No Brasil, em Wizard Brasil #3 (dezembro de 2003). Esta história foi imaginada para ser publicada em pequenas partes na revista Action Comics Weekly, logo que John Byrne assumiu as histórias Pós-Crise do Superman. A história, entretanto, não pôde ser publicada à época, pois na trama, Hal Jordan e Clark Kent conheciam as identidades secretas um do outro. Coisa que, para Superman, que seria um herói iniciante, não faria sentido. Muitos anos depois, a HQ foi concluída com ajuda de diversos e renomados artistas e incluída na série Elsewords (Túnel do Tempo/ Realidades Alternativas) da DC Comics. A história conta a origem da bateria do Lanterna Verde Original, Alan Scott (sim, o que é gay agora!), mostra a história do Coração Estelar e revela suas ligações com a criação da Tropa dos Lanternas Verdes. Porque essa história representa o Espírito Santo? Por causa dos apóstolos da Chama Verde, a Tropa dos Lanternas Verdes? Por …

Superman e a Santíssima Trindade – O Filho, por Frank Miller

O Filho Pródigo não Torna à Casa. O Filho, por Frank Miller. Publicada em Action Comics #400 (1984) e publicada por último no Brasil em Coleção Superman 70 Anos – As Grandes Aventuras do Superman (setembro de 2008). Como já falei, Superman é um personagem difícil de ser trabalhado. Imaginem um homem que tem tudo, que pode tudo, que, virtualmente, pode saber de tudo. Talvez,  por essa razão, os roteiristas “pagãos” tenham uma facilidade maior em lidar com esse tipo de poder universal. Como Grant Morrison fez no seu memorável Grandes Astros: Superman. O fato é que Frank Miller é um católico fervoroso, e talvez essa seja sua kriptonita – ou se preferir, sua última tentação – no caso de ser incumbido de escrever uma história do Homem de Aço. A proximidade estraga qualquer análise, dizem os psicólogos. Muitos e muitos elementos católicos podem ser encontrados nas histórias de Frank Miller, principalmente nas do Demolidor. E o que dizer do nome da sua maior criação: SIN City? Até mesmo Ronin tem um tom messiânico. Mas …

Superman e a Santíssima Trindade – O Pai, por Alan Moore

Vamos aproveitar a passagem do Papa Francisco pelo Brasil e do Superman, o Homem de Aço, pelos cinemas, e falar da Cristandade com os Quadrinhos? Bem longe de catequizar ou profanar, este artigo serve para estabelecer comparações. Tentei usar cada aspecto da Santíssima Trindade Cristã por um dos autores considerados a própria “Santíssima Trindade” dos quadrinhos de super-heróis: Alan Moore, Frank Miller e Neil Gaiman. O Superman é um personagem muito visado pelos roteiristas de quadrinhos, mas, diferente do que se pensa, também é muito difícil de ser trabalhado, devido, vamos dizer, ao seu aspecto messiânico. É por esse Temor à Deus – e quem fez catequese deve saber a que temor eu estou me referindo – que muitos deles declinam dos convites para produzirem uma história com o Homem de Aço. Quando esses figurões tentam realizar uma história com o Superman, dado seu valor como ícone, como o santo supremo dos super-heróis, preferem contar uma história através do artifício do “personagem ausente”.  São os outros que espalham sua palavra por aí contando seus feitos, sem …

O homem os faz feliz porque o homem faz brinquedos para eles

Não é brincadeira, não! Isso é pra ser uma espécie de crônica. Não é pra ser aquela coisa feminista raivosa, mas apenas uma constatação. Também não vou falar da importância das personagens mulheres nos quadrinhos ao longo da história, nem vou falar de autoras femininas, mas vou me focar numa pessoa em especial. Num personagem que acredito ser a síntese do que deve ser feminino e que tem, sim, uma legião de fãs. Ela é mulher, ela é negra, ela é separada, ela já foi punk, já foi batedora de carteiras, já foi deusa, passou fome, ela é mutante e corre à boca pequena que ela também é bissexual. Ela é Ororo Monroe, a Tempestade. Tempestade foi criada em 1975, por Dave Cockrum, sete anos, portanto, depois do primeiro beijo interracial da TV, entre Kirk e Uhura, do seriado Star Trek – Jornada nas Estrelas. Ela era uma fusão de dois personagens que o artista havia criado para a Legião dos Super-Heróis, a Back Cat e Typhoon. Mas foi com Chris Claremont que ela ganhou …

Matt Fraction: Less is More, Moore is Lessie, and why try to be a Grant Morrison wannabe?

Ah, Matt Fraction, eu não sei o que faço com você. Se te amo ou te odeio, ou se continuo a ficar no meio. Termo. O fato é que o trabalho de Matt Fraction é inconstante. Lendo as páginas do especial que a Panini lançou de Os Defensores, percebi o quão bom narrador ele é. Não que eu já não tenha percebido isso em outras publicações, mas porque todo esse esforço exagerado para parecer cool e criar um estilo “próprio” em Casanova? Ou eu sou muito muito burro, ou não entendi a que veio a série. Era pra ser divertida? Talvez. Mas ela usa as referências de uma maneira que afasta e não envolve o leitor. Fraction começou como escritor independente, nas publicações The Five Fists of Science e Casanova, esta última em parceria com os ótimos artistas brasileiros Gabriel Bá e Fábio Moon. Logo depois, apadrinhado por Ed Brubaker, iniciou uma parceria com o mesmo no elogiadíssimo O Imortal Punho de Ferro, da Marvel, que reimaginava a mitologia de Danny Rand, o lutador de …

Excalibur: A Risada era a Lei – Alan Davis

Quando assumiu integralmente o Excalibur, Alan Davis tentou manter o mesmo tom que ele e Claremont haviam criado, porém o aspecto das histórias mudou um pouco. Alan Davis aprofundou-se na mitologia da equipe, explorando conspirações no Omniverso e trabalhando melhor cada personagem. Nesta época, a Technet também acabou aliando-se ao Excalibur, na ausência de sua líder, Pennettra. Na história “Tudo o que você queria saber sobre a Fênix, mas tinha medo de perguntar”, o autor elaborou toda a história da força-fênix, contando que desde tempos imemoriais, uma seita preparava seus adeptos, chamados Feron, para receber a força. Mas isso mudou com a chegada de Jean Grey e Rachel Summers. O adepto, que deveria seu o hospedeiro da força, Feron, acabou juntando-se ao grupo. Naquela época, outros personagens se juntavam à equipe, como o guerreiro com aspectos leoninos, Kylun, a alienígena shiar Cerise e o agente do governo capaz de alterar seu tamanho, Micromax. Foi uma época em que as histórias do Excalibur encontraram um outro patamar, não eram mais apenas histórias bem-humoradas que brincavam com …

Excalibur: A Risada era a Lei – Chris Claremont

Na  minha opinião, um dos melhores spin-off dos X-Men, Excalibur era uma equipe de heróis mutantes com base no Reino Unido, que utilizava muitos dos elementos criados por Alan Moore em sua passagem pelo Capitão Bretanha. Na verdade, o Capitão Bretanha não foi criado por Alan Moore, mas sim por Chris Claremont (um dos criadores do Excalibur) e Herb Trimpe, em 1976. Anos depois, é que Alan Moore, em parceria com Alan Davis (outro criador do Excalibur) iria redefinir o personagem com a sua velha estratégia “tudo o que o personagem sabia sobre mesmo era uma mentira”. Assim foram desenvolvidos personagens como Mad Jim Jaspers, Opal Saturnyne, a Fúria e a Tropa dos Capitães Bretanha, bem como o Omniverso (Otherworld), agora chamado de Extramundo e a definição da terra do Universo Marvel como Terra 616. Todos estes conceitos foram reutilizados quando Chris Clarimont e Alan Davis reuniram-se para criar o Excalibur em Excalibur Special: The Sword is Drawn, de 1987 (no Brasil, Graphic Globo #8). A origem da equipe vem das consequências da saga Massacre …

Antes de Watchmen: Espectral, de Darwyn Cooke e Amanda Conner

Antes de Watchmen: Espectral nem parece uma história de Watchmen e isso é o que faz dela uma boa história. Não, eu não estpu criando polêmica dizendo que a HQ cultuada de Alan Moore e Dave Gibbons é uma história ruim. Pelo contrário, é um cânone mais do que legitimado (por mais redundante que isso pareça). Mas Espectral é uma HQ simples, não confundir com simplória, que funciona independente da pessoa ter lido a narrativa em que se inspirou. Por outro lado, se utiliza de elementos estilísticos que fizeram de Watchmen o que é. Por que essa HQ funciona? Bem, vou listar os itens pra você não se cansar e não se perder: 1. SIMPLICIDADE Certa vez eu li uma entrevista com Scott Lobdell – ok, talvez não seja o melhor exemplo, mas é um roteirista de sucesso – ele disse que quando você quer começar nas histórias em quadrinhos, não deve tentar fazer coisas muito rocambolescas: epopeia espacial, épicos históricos, com monstros gigantescos e heróis consagrados. Não. Deve buscar as coisas mais simples, histórias …

Parábola, por Jean “Moebius” Giraud

“Era a primeira vez na vida que eu trabalhava usando o ‘Método Marvel’, Stan me deu um enredo razoavelmente detalhado – em torno de seis páginas – , mas sem esboços ou diálogos. Isso era novidade para mim. Quando eu faço o Blueberry com Jean-Michel  Chartier, ele me dá o script completo, mesmo que eu não o siga fielmente. Jodorowsky trabalha comigo de uma forma única, mas, também, quando eu começo a desenhar, já tenho todos os elementos visuais no lugar. Esse não era o caso aqui. Colocar a história no caderno de esboços era a parte preferida do meu serviço. Era como desenhar storyboards. Eu via a história se desenrolar na minha frente, no papel. Quando terminei, havia feito 46 páginas, o que  mostra quanto Stan era bom. Eu não precisei aumentar nem cortar nada de história. Stan não pareceu particularmente surpreso com meus esboços, o que indica que os mesmos devem ter sido o resultado lógico do desenvolvimento de todas as informações que ele me  deu. A história é maravilhosa. Está cheia de …

Shazam! – O Capitão Marvel dos Novos 52

Geoff Johns e Gary Frank, da mesma maneira que fizeram com Batman e Superman, dão uma nova roupa e roupagem para o campeão da Pedra da Eternidade, este mês, em Liga da Justiça#0. ATENÇÃO: Isto não é uma resenha, é uma análise. Então já vou logo avisando que haverá spoilers. Leia com cuidado e não me jogue numa jaula como o Sr. Malhado. Na coluna Saudades, há um tempo atrás, havia falado da revista The Power of Shazam! e de como o Capitão Marvel era popular no Brasil. Porém, suas histórias e sua revista foram canceladas. Um dos motivos levantados para o cancelamento da revista era o de que o Capitão pertencia a uma geração de heróis naïve, que preservavam certa inocência em suas histórias: mais infantis, com mais doses de humor. Diferente dos outros heróis que tiveram sua origem recontadas e recontadas ao longo dos anos, não foi o caso de Billy Batson, o outrora Capitão Marvel. A tentativa feita por Jerry Ordway nos anos 90 foi uma grande façanha, porém menos que uma …

Meu Primeiro Fanzine

Eu tinha 14 anos e estava muito orgulhoso de que minha carta havia sido publicada na revista Os Fabulosos X-Men #25. Então, meses depois, eu recebia em casa um anúncio para fazer parte de uma comunidade de leitores de X-Men que se correspondiam e ganhavam um fanzine chamado Planeta X. Na época, o Planeta X era capitaneado pelo Caio Cardoso Moreira (Incógnita) e o Clébio Cabral Gravino (Lorde Lethal). No primeiro deles que recebi, o segundo número, minha carta para lá foi publicada. Aparentemente os organizadores tinham gostado muito, pois publicaram até meu desenho das Novíssimas Aventuras de Ciclope e Fênix (que retratava Ciclope e Fênix a La Adão e Eva), com o detalhe que eu havia feito o desenho todo em Paintbrush (naquela época eu não tinha scanner, coreldraw, muito menos photoshop – e também, não muita coisa pra fazer). Enquanto o terceiro número não saía, comecei a me corresponder com os dois “chefes” da publicação. O Clébio, 22 anos, que escrevia todas as cartas à mão, por não ter computador, falávamos de séries …

Saudades: DC Millenium

O formatinho ficou famoso com O Pato Donald, da Abril e consistia em dobrar mias uma vez a revista em quadrinhos americana, uma vez que essa já era duas dobras do formato tablóide dos jornais. Muito hoje consideram essa medida de gibis famigerada, por deturpar desenhos, carecer de adaptação de diálogos, entre outras tesouradas editoriais. Mas quando a situação apertou na crise de 1998 (é, tivemos crise naquela época, lembram-se? Foi logo depois do Plano Real quando os prósperos Tigres Asiáticos eram a bola da vez. Isso não é coisa inventada pela Dilma ou pelo Obama), bom quando a crise apertou e a Abril resolveu tornar suas revistas de super-heróis produto de luxo, com a linha Premium, editoras menores correram para abocanhar a oportunidade de vender revistas mais baratas, no velho e bom formatinho. Dados Gerais: DC Millennium (Editora Brainstore) Duração: 09 números  – Fevereiro de 2002 a Agosto de 2003 O Contexto: Já falei aqui sobre o contexto do mercado editorial brasileiro de quadrinhos daquela época e falei um pouco também na abertura do …

Love Hina, de Ken Akamatsu

Será que Love Hina é um shojo mangá disfarçado de shonen? Love Hina é um mangá que virou anime e foi publicado entre 1998 e 2001 no Japão na revista Shonen Magazine. No Brasil, foi publicado pela Editora JBC há alguns anos atrás e está sendo republicado agora, em edição de luxo. Foi exibido no Cartoon Network e na PlayTV. Primeiro eu queria explicar que shojo é um mangá voltado para as meninas e o shonen, para meninos. Corrijam-me se eu estiver errado, não entendo muito de mangá. Em segundo, queria contar um pouco da minha experiência com a série. Love Hina foi o primeiro mangá que me interessei. Sempre detestei Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball, Yu-Gi Oh! e esses outros mangás voltados para meninos. Meus amigos da época, insistiam para que eu lesse mangá e eu dizia que não curtia, que a minha praia eram os super-heróis. Então meu amigo surgiu com Love Hina. Com 14 volumes para ser exato. E ele disse que eu ia gostar deste, que eu pelo menos ia dar …

A História em Quadrinhos de Super Heróis Definitiva

E se eu perguntasse qual seria para você a obra que define o gênero dos quadrinhos de super-heróis? O que você me responderia prontamente? Watchmen? O Cavaleiro das Trevas? Grandes Astros: Superman? Eu discordaria. Não acho que seja nenhuma daquelas. E talvez a resposta surpreenda você. Primeiro vou justificar porque as obras acima não cabem no pressuposto: todas elas sim, homenageam a indústria e a mitologia dos super-heróis, mas todas de certa medida se utilizam da reconstrução do gênero. Elas não reverenciam o gênero em si, mas o refazem, o repensam, refletem. Sim, são muitos RE’s. “A sociedade Ocidental legitimou o invencível Superman, que os serviu quando o sistema era ameaçado por um inimigo invencível. O Batman apareceu quando Dick Tracy não estava mais disponível para lidar com os grandes crimes. O Homem-Aranha se juntou ao elenco de heróis quando nós não éramos mais inocentes o suficiente no que tangia à perfeição dos nossos super-heróis; e o Spirit veio quando deveria haver um caso perfeito de heroísmo que não eraa terá natal de homens e …