Mês: outubro 2013

A Mágica Acontece Entre um Quadro e Outro – Entrequadros, de Mário César

Desde 2009, Mário César de Oliveira vêm publicando a série Entrequadros. Primeiro, ela surgiu como um fanzine, publicado pelo 4º Mundo. Os dois seguintes foram publicados pela Balão Editorial e o último, Entrequadros – Ciranda da Solidão, abordando histórias do universo LGBT, foi financiado através do apoio do público, por meio do site de crowdfunding catarse.me . O lançamento será hoje, às 19h, no Testar Hostels, em São Paulo. O lançamento acontecerá junto com uma festa de Halloween. O PRIMEIRO ENTREQUADROS Como o próprio Mário conta na entrevista (que será publicada aqui no sábado), este fanzine foi uma compilação de trabalhos que ele já tinha prontos e que não foram publicados em coletâneas, como a Front. Mas nesse volume, já nos encontramos com a Morte, um dos personagens recorrentes de Mário, algo como um amálgama entre a Dona Morte de Maurício de Souza e a Morte, irmã do Sandman de Neil Gaiman. Neste volume também há a adaptação de um conto, artifício que se repetiria no volume seguinte. Mas, para mim, o destaque deste volume …

De Super e de Louco Todo Mundo tem um Pouco (III)

O HERÓI DÁ DEPRESSÃO Robert Reynolds, o Sentinela, assim como o Hulk, compartilha as identidades tanto de herói, como o Sentinela, quanto a de vilão, como o Vácuo. Mas o mais interessante das patologias do herói talvez seja a depressão que o acometeu quando o mundo se esqueceu dele. Isso mesmo, o MUNDO INTEIRO se esqueceu de que ele era um herói, e o mundo inteiro se esqueceu de que Reynolds era o supervilão Vácuo. Para conter o vilão, Reed Richard, o Senhor Fantástico, do Quarteto Fantástico, resolveu construir um dispositivo para que todos na Terra, inclusive Reynolds e sua esposa, esquecessem de que o Vácuo e o Sentinela já existiram. Assim, Reynolds caiu em depressão e no alcoolismo. Numa história subsequente, ele é analisado por um psiquiatra do qual ninguém tem conhecimento e, que numa reviravolta rocambolesca revela ser o Vácuo. Aliás, psiquiatras são a especialidade médica em que temos mais supervilões. O Sentinela/Vácuo acabou morto, durante a saga O Cerco, estripado por uma descarga energética desferida por Thor. O FIM DO MUNDO ESTÁ …

De Super e de Louco Todo Mundo tem um Pouco (II)

HULK FORTE! BANNER FRACOTE! O Hulk seria um caso de múltiplas personalidades ou de bipolaridade? Imagino que esteja mais para o segundo. Enquanto Robert Bruce Banner é tímido, inseguro, porém incrivelmente racional, o Hulk é puro instinto, natureza destruidora e irracional. Um deles poderia representar todo o potencial do superego e o outro, do id. O Hulk por um bom tempo aparecia quando Banner ficava muito nervoso. Ele também aparecia quando o sol se punha – interessante momento para o “id” se libertar. Foi através do tratamento psiquiátrico do Dr. Leonard Samson, um médico psiquiatra especialista em radiação gama – uma vez que ele mesmo havia sido exposto aos efeitos da radiação, que o Hulk/Banner conseguiu equilibrar suas identidades e equilibrar o ego na forma da persona do Professor: um ser com a força e o corpo do Hulk, mas com o raciocínio e inteligência de Bruce Banner, formando, então o ego. Uma das explicações para que o trauma da bomba gama que deu origem ao Hulk ter quebrado a persona de Banner em duas …

De Super e de Louco Todo Mundo tem um Pouco (I)

Falar que gênios do mal são doidos e pirados é chover no molhado. Mas e quando a loucura afeta os super-heróis? Quando isso acontece, ou eles acabam morrendo ou se tornam vilões. Ou ambos. Um super-herói nunca pode ter uma doença mental. É raro ver um destes personagens se tratarem com psiquiatras, psicólogos ou até mesmo tomarem remédios contra suas doenças, apesar de haver heróis como o Homem-Hora que toma sua pílula Miraclo e se torna superforte durante uma hora. Mesmo que antidepressivos necessitem de quinze dias para fazer efeito no corpo humano, nos quadrinhos eles parecem funcionar instantaneamente, como o espinafre do Popeye. “Tá triste? Toma um Prozac!”, dizia a cultura pop dos anos 90 e várias das HQs da época. Ainda por cima há uma grande confusão quanto aos diagnósticos das psicoses dos heróis. O interessante é que a loucura, ou pelo menos, o que é tachado como “loucura”, também acomete os criadores da indústria de super-heróis. Alguns deles acabaram cometendo suicídio, como Jack Cole, criador do hilário Homem-Borracha e Wally Wood, renomado …

A Terceira Via, Você é Minha Mãe? – Um Drama em Quadrinhos, de Alison Bechdel

Depois de contar seu relacionamento com o pai, um bissexual enrustido, que acaba – ou não – cometendo suicídio, Alison Bechdel lançou um novo livro, desta vez falando sobre suas interações com a mãe – ou quase isso. Enquanto no primeiro livro, Fun Home – Uma Tragicomédia em Família, Alison usava de citações da literatura, como Ulisses, Retrato de Uma Senhora e O Grande Gatsby, nesta segunda graphic novel, a autora usa dois principais autores: Virginia Woolf e Donald Winnicott. A primeira, autora de Mrs. Dalloway e outros livros famosos e o segundo um dos pioneiros da análise psicanalítica entre mãe e filho. A VIA PSICOLÓGICA Esse é o grande tema da graphic novel. Mais que tratar do relacionamento com sua mãe, Alison propõe com essa autobiografia uma autoanálise, sem poupar a mãe, mas claro, sem poupar a si mesma. Afinal, uma das razões para fazer análise ou terapia é permitir se conhecer, reconhecer os erros e trabalhar em cima deles. Uma das coisas mais fascinantes em psicologia e, mais precisamente, na psicanálise, é os …

Eram os Deuses Astronautas?, Terra X, de Alex Ross, Jim Krueger e John Paul Leon

“Morra antes de morrer. Não resta chance depois”. – C. S. Lewis Terra X, minissérie criada por Alex Ross e Jim Krueger, com desenhos de John Paul Leon, mostrava o Universo Marvel daqui a 20 anos, uma Terra onde todos os humanos possuem poderes. Publicada em 1999, depois do grande sucesso de O Reino do Amanhã (Kingdom Come, da DC Comics, de Mark Waid e Alex Ross, que também mostrava o futuro distópico do universo de Superman e Batman), a Marvel resolveu chamar Ross para fazer a sua versão do que aconteceria no Universo 616. A proposta era a de mostrar o que REALMENTE iria acontecer com o Universo Marvel, mas algumas discrepâncias editorias acabaram transformando aquelas histórias em uma dimensão alternativa. O QUE É O MAL? Na minha primeira aula de Cultura Religiosa na faculdade – a qual éramos obrigados a cursar, pois a PUCRS é uma universidade católica -, eu pensei que teria um repeteco das coisas que vi na catequese e nas inúmeras aulas de religião que tive ao longo de uma …

Eu cresci no Universo Marvel, por Joss Whedon

“Eu cresci no Universo Marvel. Eu tinha uns 10 anos quando entrei pela primeira vez. Ross Andru fazia o Homem-Aranha se balançar por toda Nova York. George Pérez tinha jogado os Vingadores na Contraterra. Foram os meus primeiros gibis, aquele pelos quais eu corria pra banca de jornal, mas logo estava lendo quase toda a linha da Marvel. Conhecia todas as histórias também; devorava todas as edições anteriores, origens e antologias que podia encontrar. Era um espaço rico e místico, cheio de grandes aventuras cósmicas e dramas pessoais. Um bom lugar para crescer. E a melhor parte de tido isso é que esse universo parecia estar crescendo junto comigo. Enquanto eu passava pela adolescência e me deparava com uma realidade sombria e mais complexa, a Marvel acompanhava cada um dos meus passos. As revistas, que já eram tão ricas, tornavam-se mais profundas e sombrias. Conceitos mais audaciosos, narrativa visual mais sofisticada. Os personagens era mais ambíguos, bem amarrados, torturados e adultos do que qualquer adulto pudesse suspeitar. Deathlock, Howard, o pato, Wolverine, Elektra. Estava a …

Henry James falando sobre quadrinhos?

Henry James, escritor consagrado de A volta do parafuso e Retrato de uma senhora, nasceu em Nova York, em 1834 e morreu em 1916, em Londres. Nessa época, os quadrinhos ainda estavam dando seus primeiros passos. Então, como Henry James poderia ter escrito sobre quadrinhos? A resposta é que ele não escreveu. Mas chegou muito próximo disso quando comparou a literatura com a arte plástica em seu ensaio “A arte da ficção”, incluído no livro A Arte da Ficção, de 1884. (Publicado no Brasil pela Editora Novo Século em 2011). SE A PINTURA É A REALIDADE, O ROMANCE É A HISTÓRIA Foi o que disse o autor, que a pintura representa o que a visão pode alcançar. (Claro, muito antes dos movimentos modernistas mudarem essa perspectiva). Mas se a pintura está relacionada com o espaço, a história, o romance, estão relacionados com o tempo. Os quadrinhos, por sua vez, representam o espaço e o tempo através de seus quadros justapostos. Ambos são uma representação da realidade. Segundo o autor, “um romance, em sua definição mais …