Spoiler você sabe o que é, ao menos se lê quadrinhos. É aquela informação bombástica, que muda toda a história. Uma revelação do que vai acontecer no futuro. É como o que as revistas de fofoca estilo Contigo e TiTiTi fazem com as novelas. Só que, no mundo dos quadrinhos, os melhores representantes de revistas de fofocas são os fóruns da internet. Antes da internet, não havia toda essa comoção ao redor dos spoilers, era preciso garimpar muito para achar o que ia acontecer na próxima edição, mesmo as revistas brasileiras tendo uma defasagem de dois anos com os EUA.
Já fui um caçador de spoilers, fuçava em fóruns para ficar sabendo o que ia acontecer em cada série, e, bem, já estava me frustrando com os quadrinhos. Mesmo depois, toda hora saía uma notícia bombástica estragando minha surpresa. Como dizem, o melhor não é susto, é o suspense. O melhor não é chegada, mas o caminho trilhado. Se fosse assim, nascíamos mortos. Se fosse assim, Lost não teria feito sucesso.
Minha opinião mudou quando o Peter David, escritor de X-Factor, pediu para os leitores não divulgarem o que acontecia durante uma determinada série de números da revista. Tanto é que os previews vinham sem nada escrito. Eu acatei a decisão, e meu sense of wonder, ou seja, a sensação de maravilhamento com a leitura e os acontecimentos bombásticos da edição foram muito maiores.
Os quadrinhos de super-heróis americanos vivem mergulhados em uma cultura dos spoilers. Para fazer a revista vender mais, eles precisam de polêmica. Não importa mais a construção de clima, de personagem, mas sim aquela Splash Page dupla em que os Vingadores ficam analisando o bilau do Gavião Arqueiro. O marketing gira em torno do foderoso, do fodástico, do poderoso e do fantástico, das transformações, casamentos, mortes, mudanças de uniformes. Não existe mais surpresa. Não existe mais maravilhamento.
Agora existe a discussão, existe a polêmica. Os nerds que querem que o ganhador da luta seja o Homem-Formiga Original e não Homem-Formiga do Robert Kirkman, porque aquele sim é o verdadeiro, não, não, o verdadeiro é o Scott Lang, não, não o verdadeiro é a Vespa. Idiota, aquele é o Jaqueta Amarela, não é o Gigante, não é o Golias. Mas afinal, quem criou o Ultron, foi o Gigante ou o Golias? No que diabos isso deixa a história melhor ou pior de ser apreciada? O diabo está nos detalhes.
Então, a cada decisão editorial, a cada spoiler revelado, perde-se um leitor com a velha máxima “não vi e não gostei”. A pessoa só fica sabendo do final da saga e, por causa dele, desiste de ler um arco de histórias inteiro porque a decisão não lhe agradou. Porque, né, todo mundo tem que dar sua opinião, mesmo sem ter visto a obra ou parado para pensar um pouquinho mais como o personagem chegou naquela situação, como se apenas aquela decisão importasse e não como se chega àquele momento e quais são as consequências dele.
Como diz a música do Cazuza, o que importa é quem foi “eleita garota do Fantástico”, porque qualquer decisão editorial já “vem malhada antes de nascer”.
Para ter uma visão de uma pessoa que curte spoilers e um viés disso em livros, séries e filmes, cheque a coluna do Tuca no Posfácio.