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Você, Seus Pais, Quadrinhos, a Política Atual e a Guerra do Vietnã

Interrompermos nossa programação para dizer que seus pais e tios estão errados quando te criticam. Eles faziam exatamente o mesmo que você nessa idade. Se não eles, pelo menos a geração deles. Vamos aprender um pouco de história do mundo e o que isso tem a ver com quadrinhos, movimentos sociais, você, seus pais e a Guerra do Vietnã.

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TALK ABOUT MY G-G-G-GENERATION!

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Durante o final dos anos 60 e o início dos anos 70, na vanguarda de movimentos pelos direitos civis, black-power, feminismo, a nova direita e a contracultura, estavam pessoas idealistas determinadas a mudar a sociedade atacando o establishment. Muitos desses jovens viam a si mesmos como parte de uma geração moral e materialmente distintas de seus pais. Na verdade, muitas dessas diferenças entre-gerações era pessoal e material, refletindo-se mais em estilo de vida, moda e entretenimento, do que em escolhas políticas.

Hoje em dia temos o mesmo embate, claro, muito mais calcado em estilo de vida do que em escolhas políticas. Nos dias que correm vemos outros movimentos se formando, como as “feminazis” e os “gayzistas”, uma nova e ainda mais radical direita, a ala evangélica, os xenófobos e os libertários. Mas de certa forma, mesmo no cotidiano acabamos envolvidos em escolhas políticas, porque toda ação é um ato político. Conviver em família também pode ser um ato político. Minha tia costuma dizer: “Isso não é uma democracia, é uma família”. Mas toda escolha, quando envolve os outros, se torna um ato político. Se os demais não são auditados, se torna totalitarismo.

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No final dos anos sessenta, baby-boomers em seus quinze a vinte e poucos anos constituiam o maior mercado demográfico dos EUA, e “protestar” e “discordar do sistema” tornaram-se valores de mercado. O personagem de Dustin Hoffman em A Primeira Noite de um Homem refletia a alienação que muitos jovens sentiam em relação à moral tradicional e às aspirações da classe média. Filmes como A Primeira Noite de um Homem, Bonny & Clyde, Easy Rider – Sem Destino discutiam a demanda criada pela insatisfação da juventude. Quem explorou melhor essa insatisfação foi a industria do Rock’n’Roll em grupos como The Doors e Jefferson’s Airplane.

A trilogia – que não é trilogia – Jogos Vorazes também insuflou um sentimento de insatisfação nos jovens de hoje, mostrando que todos podemos ser revolucionários em potencial. “Você é o tordo”, diz o filme, se referindo ao broche que a protagonista Katniss Everdeen, vinda de classes proletárias, usa. Ela se torna um símbolo de luta contra a tirania do presidente Snow, que tranformou a matança de jovens em um reality show em um pão e circo para toda uma nação. Ao mesmo tempo, as divas pop têm usado em seu discurso a defesa das minorias, como os gays e as mulheres, que sim, são um grande público dessas mesmas ídolas pop. Séries de TV como Glee, Looking, Sense8 e Jessica Jones tem refletido os percalços que essa fatia da sociedade sofre e garantindo muita identificação com um uma parcela da população que antes achava que deveria sofrer calada.

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No final da década de 1960, tanto a Marvel quando a DC Comics tornaram-se propriedades corporativas. Em 1969, a DC Comics acabou com seus deparatamentos editoriais descentralizados, e uniu-os sob direção de Carmine Infantine, revitalizando toda sua linha. Os comic book makers concluiram que existia uma grande demanda por entretenimento que trouxesse uma mensagem política significante para falar sobre o mundo. Ao receber cartas de leitores que ou amavam ou odiavam histórias sobre guerra do Vietnã, a Marvel decidiu evitar retratar a guerra. Contudo, Flash Tompson (coadjuvante do Homem-Aranha) vai à guerra, e quando retorna, se sente culpado pelo que fez e ter levado sofrimento aos vietnamitas. Mais tarde, se envolve com uma vietnamita.

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Na década de 2010 vemos Marvel e DC Comics como impérios cinematográficos, responsáveis pelas maiores bilheterias da história do cinema. Uma vez mais, elas revitalizaram suas linhas para agradarem e renovarem o seu público com as inciativas DC: Os Novos 52 e All-New All-Different Marvel, algumas das propostas dessas linhas é trazer mais diversidade aos quadrinhos, seja na forma de contar as histórias, mas principalmente na retratação de seus personagens, cada vez mais diversos em etnias, orientação sexual e raças.


 

A GUERRA DO VIETNÃ E A GUERRA DO IRAQUE

Com o afastamento do Homem-de-Ferro de temas como a Guerra Fria e a Guerra do Vietnã, o personagem se voltou para temas como racismo, problemas de poluição, combatendo radicais que queriam resolver essas questões à força. Um deles era Inferno, pelo qual os leitores nutriam mais simpatia do que ao herói, pois enquanto este construía armas para a guerra, o vilão tentava tornar o mundo melhor. Após protestos dos leitores, o Homem de Ferro se tornou completamente contra a guerra do Vietnã e terminou a divisão de armas da sua indústria, resolvendo usar seus recursos para produzir bens de consumo e produtos ambientais.

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Os quadrinhos de super-heróis passaram então a questionar sua própria autoridade e propósito. Os títulos das histórias perguntavam: “por que deve existir um Homem-de-Ferro?” ou até mesmo “deve existir um Superman”? O Capitão América começou a questionar seu papel no Vietnã e outras guerras. Stan Lee dizia que a maioria das cartas dos leitores pediam que o Capitão ficasse fora da guerra. Mais tarde, Stan escreveu que no mundo de hoje, o Capitão América não podia mais bancar o John Wayne e que ele não via uma maneira dos heróis atuarem como ultrapatriotas.

Durante a Guerra do Iraque, que durou de 2001 a 2008, os quadrinhos também se encontravam nesse questionamento de “quem são os verdadeiros inimigos?”, ou “os inimigos não somos todos nós?”. Não havia mais nazistas, não haviam mais comunistas, haviam sobrado os alienígenas e foi isso que séries como Os Supremos e Invasão Secreta fizeram, questionar, através de alienígenas transmorfos – ou seja, que podiam adquirir a forma de qualquer um de nós – em quem podemos confiar quando o inimigo pode estar infiltrado em nossas próprias casas.

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Porém, outras sagas como Guerra Civil (2005) mostraram que o inimigo também pode ser a divergência de opinião, mesmo entre pessoas que se consideravam grandes amigos como o Homem de Ferro e o Capitão América. A saga Crise de Identidade, na DC Comics, mostrou as consequências do que pode acontecer com o mundo quando nossos amigos nos ignoram ou “apagam da mente” fatos do passado. Divergências de opiniões, guerras de palavras, guerras de poderes.


 

O CAPITÃO AMÉRICA E O ESCÂNDALO WATERGATE

Em agosto de 1974, Nixon renunciou à presidência após a denúncia de dois repórteres do Washington Post, por seu envolvimento no escândalo conhecido como Caso Watergate. Insatisfeito com a repercussão negativa da povo americano com a Guerra do Vietnã, Nixon pretendia fundir as agências do FBI e da CIA e instalar um regime autoritário, cerceador de direitos políticos e com autoridade para invadir residências, grampear telefones e violar correspondências.

Steve Englehart bolou uma história para mostrar como o Capitão América reagiria à tudo o que estava acontecendo no seu país. Criou uma história em que o herói foi desacreditado e perseguido por um comitê governamental que se dizia responsável pela recuperação dos princípios americanos, mas que na verdade agia em conluio com a organização Império Secreto, que pretendia tomar o poder nos EUA.

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Durante sete meses os leitores acompanharam o Capitão América tentando provar que não era um embuste ou uma ameaça à nação. Em Captain América #175, o herói encurralava o líder do Império Secreto no gabinete presidencial, e via o mesmo cometer suicídio após lhe retirar o capuz. O rosto do personagem não é mostrado ao leitor, mas subentendia-se que fosse o próprio presidente Nixon. “Se eu dissesse que era Nixon, poderia ter problemas, então optei por censurar-me. Sabia que não iria derrubar a república, mas naquele tempo não era tão fácil esculhambar o presidente e sair na boa, como hoje em dia”. Steve Englehart.

Para mostrar como nos dias de hoje esculhambar com o presidente é legal, Mark Millar, nas histórias dos X-Men, fez o vilão Magneto atacar a Casa Branca e deixar o presidente George W. Bush nu em pelo na frente de milhares de espectadores da televisão. Sinal de que os tempos estão mudando. Ou será que eles continuam os mesmos? Talk about my g-g-g-generation. (Aliás, essa música do The Who é da geração deles, mas foi regravada pelo Oasis lá pelos anos 2000!). Talk about their g-g-g-generation.

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