10 Motivos, Análises, quadrinhos, Sobre Roteiros
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R de Repetição: os Roteiros de Rick Remender

Remender, remender, the 5th of Novender!

Remender, remender, the 5th of Novender!

Rick Remender é hoje um dos grandes nomes da Marvel Comics. Ele está encarregado de escrever o novo megacrossover da editora: AXIS, reunindo Vingadores e X-Men contra o Caveira-Vermelha-com-a-armadura-de-Massacre-com-pedaços-do-cérebro-do-Professor-Xavier-implantados. Rocambolesco, não? R de Rocambolesco. Uma das marcas registradas de Remender. O autor é exímio em trabalhar grandes momentos chocantes, grandes revelações, encurralar heróis, deixá-los à beira de um ataque de nervos. Rick Remender é hoje, um dos grandes revitalizadores dos anos 90 e do grim’n’gritty – as histórias cruéis e raivosas –, ainda que com outra pegada.

O atual escritor de Fabulosos Vingadores, a equipe que junta X-Men com Vingadores, começou sua carreira se dedicando à animação. Trabalhou animando filmes como Anastascia e Titan A. I. Quem se lembra dessas películas viveu a infância nos anos 90. Um tempo depois, cansado de trabalhar para outras pessoas, Remender virou freelancer no mundo das HQs. É possível ver seu trabalho como arte-finalista em revistas como Vingadores, ao lado de Kieron Dwyer, naquela que ficou conhecida como A Saga de Kang, quando Kurt Busiek se despediu do título. A arte-final não satisfazia Remender e, junto com Dwyer, lançou uma revista idependente, a Kieron Dwyer’s LCD. Vendo que até que não mandava tão mal assim nos roteiros, Remender lançou a série Fear Agent pela Image.

6 MOTIVOS POR QUE PARA RICK REMENDER OS ANOS 90 AINDA ESTÃO AÍ

Poxa, mas Frank era o Doutor!

Poxa, mas Frank era o Doutor!

  1. GRIM’N’GRITTY

A série da Image foi um sucesso de público, explorando ficção científica e thriller psicológico. Dali, ele colaborou com Matt Fraction na série O Diário de Guerra do Justiceiro (Punisher: War Journal) e acabou tendo em suas mãos uma nova série de Frank Castle. Novamente um sucesso, na esteira da megassaga Reinado Sombrio, Frank combatia Norman Osborn, o Duende Verde – que tinha prometido eliminar, e O Capuz, que reviveu, em um ritual satânico, a mulher e filhos mortos de Frank Castle. Mas os acontecimentos bombásticos não param por aí. Depois de ter sido retalhado e desmembrado por Daken, o filho de Wolverine, Frank se torna o FrankenCastle, uma espécie de Frankenstein que andava lado a lado com a Legião dos Monstros.

Francamente! Em que mundo nós estamos... Tsc, tsc!

Francamente! Em que mundo nós estamos… Tsc, tsc!

  1. REALIDADES ALTERNATIVAS

Do Justiceiro, Remender foi para a Fabulosa X-Force, uma nova formação dos assassinos sangue-frios liderados por Wolverine. E claro que dessa vez também não poderia faltar muita matança. No primeiro arco da série, nossos “heróis” deviam decidir se matavam ou não o vilão Apocalipse ainda criança. E muito mais gente foi morrendo ao longo dos arcos da Fabulosa X-Force. Sempre com direito a muitas idas e vindas para as mais diversas realidades alternativas, incluindo-se aí visitas à Era do Apocalipse e ao Extramundo. Esses dois universos, dois temas importantes dos anos noventa das revistas mutantes.

Agora, em Capitão América e Fabulosos Vingadores a ladainha das realidades alternativas é a mesma. Parece que Remender se esforça para criar universos paralelos cada vez mais rocambolescas e de difícil entrada para novos leitores. Utilizando conceitos antigos e os transfigurando, misturando com conceitos novos, como a 4ª linhagem de descendente de Apocalipse, as histórias vão se tornando desinteressantes, perdendo uma característica essencial do Universo Marvel: um mundo que se pareça com o nosso.

  1. SEXO, MENTIRAS E VIDEOTAPES

Enquanto escrevia a revista da equipe mutante, Remender foi encarregado de relançar outras duas revistas da Marvel: Venom e Vingadores Secretos. Mais duas revistas com histórias black-ops, agentes infiltrados, sigilo, segredos, sexo, mentiras e videotapes. Mais uma vez, os Vingadores acabam num mundo alternativo, no qual os androides e os heróis-máquina governam. O artifício um herói trai o outro e vilões se tornam heróis e vice-versa é usado.

Você também é do tipo que não se mistura?!

Você também é do tipo que não se mistura?!

  1. MULHERES NA GELADEIRA

Já na revista do Venom, o herói mutilado e sem pernas, Eugene “Flash” Thompson, se torna um operativo-black-ops-do-governo-sem-dó-nem-piedade ao se fundir com o simbionte Venom. Simbiontes! Tem algo mais anos 90 que simbiontes? Tem sim! Exploitation! Nos anos 90, o escritor de Lanterna Verde, Ron Marz, escreveu uma história em que a namorada do herói era retalhada e seus pedaços eram deixados dentro da sua geladeira. Isso provocou a ira das leitoras, entre elas, a atual escritora de Batgirl, Gail Simone, que criou o site Women in Refrigerators, no qual denunciava “abusos” contra personagens femininas nos quadrinhos. O mesmo acontece na revista do Venom, mas o abuso que as personagens sofrem é psicológico. Pobre Betty Brant, a namorada de Flash. Pobre mãe do Flash, que foi internada em um asilo por não saber lidar com o terror do simbionte. Se Remender tira de um lado, mostrando as dificuldades de Flash como cadeirante, pesa do outro mostrando sua namorada como objeto a ser deixado de lado que serve apenas de “isca”.

Everybody Chaykin! Chaykin your booty!

Everybody Chaykin! Chaykin your booty!

  1. HOWARD CHAYKIN

O lado bom nisso tudo parece ser a influência dos roteiros de Howard Chaykin. Este senhor foi muito importante par os quadrinhos, principalmente os quadrinhos independentes do final dos anos 80, início dos anos 90. Ele fundou a First Comics, na qual lançou sua série American Flagg! E junto com Frank Miller foi responsável por uma mudança de patamar nas histórias de super-heróis. Chaykin se aproximou do cinema, utilizando uma linguagem mais crua, anúncios, onomatopeias e principalmente as legendas em voz off. Os elementos de Chaykin: jazz, pulp, ficção científica e sexo, estão todos ali na obra de Remender.

  1. DRAMA QUEENS
Steve apanhando...

Steve apanhando…

O que os anos noventa ajudaram foi mostrar que os heróis são falhos, ainda que aos trancos e barrancos. Remender faz isso de maneira mais sutil e, por que não, carinhosa. Nota-se que ele tem afeição pelos personagens que trabalha e os conhece muito bem, sejam seus vícios, sejam suas virtudes.

Ao mostrar que uma máquina de matar como Venom, dominado por um simbionte assassino esconde um cadeirante viciado em álcool, existe uma certa compensação aí. Da mesma forma que o Frankenstein Justiceiro está em uma busca por sua alma: uma coisa que Frank Castle nunca vai conseguir encontrar em sua sede por punir os culpados. Ao mesmo tempo em que mostra o Capitão América em mundo hostil na Dimensão Z, ele também mostra a criança Steve Rogers tendo que se virar sozinho nos Estados Unidos pós-depressão de 29. Esse paradoxo entre pertencimento e não-pertencimento e as compensações que os personagens fazem para se mostrarem ao mundo, mostram que sim, Remender tem voz própria, apesar de em muito parecer um adolescente que se perdeu em algum lugar entre os Backstreet Boys, Mortal Kombat, Cavaleiros do Zodíaco e Jerry Seinfeld.