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“Ah, é Só um Quadrinho!”. “Ah, é Só um Filme!”. Será?

Até onde vai a nossa responsabilidade quando não deixamos que a membrana permeável que se estabelece entre a ficção e a realidade atue sobre nós e o nosso mundo concreto? O quanto a mediação de uma tela ou de uma página nos afasta e nos aproxima de nossa atuação enquanto seres humanos agentes da mudança e o quanto nos relega a simples espectadores das manipulações que nos tornamos vítimas? Em que medida um filme é só um filme e um quadrinho é só um quadrinho se banalizamos sua mensagem e as trocamos pelo mero consumismo e à veneração de outras mensagens, distorcidas, explicitadas nestas produções culturais? Qual é a mudança que precisamos estabelecer para provarmos que estamos realmente vivos quando nos deparamos com um quadrinho e/ou um filme?

A Leitura dos Quadrinhos: Mito, Ritual e Realidade

Acho que vocês, leitores inveterados de quadrinhos, já devem ter percebido que fazemos da nossa leitura, do nosso contato com os quadrinhos, um ritual. Todos visitamos um templo: uma banca, uma livraria, uma loja virtual. Todos comungamos da mesma história, do mesmo enredo, se lemos a mesma publicação. O ato ritualístico da leitura envolve sentidos e sentimentos, a visão, o toque das páginas, o peso do quadrinho, o cheiro do papel e da tinta. Nos acomodamos para poder nos sentir melhor ao ler quadrinhos. Entre muitas outras similaridades com um culto religioso. Afinal, muitos tratam Marvel e DC, e alguns criadores como verdadeiros e veneráveis deuses. Mas eu gostaria de analisar esse fenômeno um pouco mais a fundo e, por isso, fiz uma pequena pesquisa. Venham praticar esse rito comigo, sem cerimônia, por favor!

De onde vêm as ideias?

Ou “Por que é impossível não despirocar lendo Flex Mentallo e o que o inconsciente coletivo e o Enrique Iglesias têm a ver com isso tudo”. Acontece que essa semana reli Flex Mentallo, de Grant Morrison e Frank Quitely. Uma edição que estava fadada a não ser publicada no Brasil, devido a problemas com direitos autorais. Mas os obstáculos foram rompidos e, este mês, a Panini Comics lançou a obra aqui no Brasil. Antes de você ler esse texto, seria bom dar uma lida no que escrevi anteriormente sobre a mesma obra, que acabei lendo em scans na época. Aqui o link. A versão brasileira, com tradução de Érico Assis e edição de Fabiano Denardin e Daniel Lopes, é muito caprichada, numa encadernação melhor que a americana, cheia de extras, como o texto introdutório de Morrison e os rascunhos de Quitely. A história de Flex Mentallo é cheia de metalinguagem, cheia não, submersa em metalinguagem. Dizem que a metalinguagem é uma literatura masturbatória, cheia de autorreferências, que é muito fácil criar uma história sobre histórias …

Os Arquétipos e os Super-Heróis da Marvel

Os arquétipos funcionam de certa forma como instintos que guiam e moldam nosso comportamento. As mitologias, bem como os arquétipos, ajudam as pessoas a encontrarem suas identidades, ajudam-nas a em sua luta para entender o universo e o lugar que ocupam nele. Segundo Randazzo (1997, p. 32), os meios de comunicação têm o papel de transmissores da mitologia dos arquétipos, capitaneados pela publicidade geradora de modas e padrões que orientam as massas. No âmbito racional, os super-heróis se identificam com o arquétipo das Cenas do Cotidiano, quando em sua identidade secreta, seu alter-ego mortal. Ao demonstrar, incertezas, pouco conhecimento de si, ao se projetarem em oura pessoa que admiram, como fazem os super-heróis humanizados da Marvel, se aproximam mais dos leitores por serem identificados em suas fraquezas. Esses personagens além de lutar contra seus inimigos têm de batalhar para sobreviver, portanto, têm uma forte consciência das suas responsabilidades e obrigações, conforme diz o lema do Homem-Aranha: “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, tendo para si a crença de que tudo se realiza com esforço, mesmo …

As Eras dos Quadrinhos – Parte 1

Mudança de Paradigma – Metamorfose Ambulante Umberto Eco, em seu estudo sobre o mito do Superman, publicado no livro Apocalípticos e Integrados, mostra que, por ser um arquétipo, o super-herói deve apresentar certa inércia para permitir a fácil identificação. Ou seja, nada de grandes mudanças em sua vida. Por essa razão, as editoras costumam resistir a deixar seus personagens casarem ou terem filhos. Segundo o autor, os arcos de história se sucedem, o herói enfrenta e debela inúmeras e semelhantes ameaças, mas, no final, perdura essencialmente o mesmo status quo: combater o mal, servindo como exemplo de coragem e heroísmo, geração após geração, sem nunca envelhecer ou evoluir. Caso o Superman, ou qualquer super-herói sujeito a essa mesma lei, provoque alguma ação que altere esta continuidade, daria um passo em direção a seu fim. E este fim, como sabemos, não é a morte. Por outro lado, o personagem também não pode permanecer estático por muito tempo, especialmente em seus detalhes, ou então sua imutabilidade e eterna juventude o transformarão em uma relíquia: a idade que …

A mitologia dos super-heróis

Os quadrinhos de super-heróis, assim como outras obras de arte, provocam reações de identificação com o leitor: podem desvendar de forma vicariante, com seu efeito catártico, os dramas psicológicos e os mitos universais do homem. Por sua facilidade de leitura e de ingresso na trama, seus atributos se mostram como uma oferta à intimidade, proporcionando elaborações de fantasias acompanhadas de sensações de bem estar, ou mesmo de desconforto, provocando empatia no seu público-leitor. “Na plenitude de sua função expressiva e catártica, a obra criada se impõe como objeto bom, revalorizador do ego, para o agente da criação e para o espectador. Para o agente, porque vivencia a obra como um complemento do próprio ser, que o ajuda, através do artifício da projeção, a configura e a corrigir a representação que faz de sua auto-imagem e a ampliar a compreensão de sentido de sua existência. Para o espectador, mediante a função especular e as conseqüentes oportunidades de identificação projetiva inerentes a toda produção conceitual ou artística, e mais precisamente porque lhe proporciona uma experiência no intemporal. …

O inverso dos arquétipos na Santa Ceia Perpétua!

Projeção e Identificação

Os quadrinhos promovem um sistema de identificação e projeção nos leitores. Com a revista do Homem-Aranha nas mãos o nerd médio se identifica com Peter Parker e projeta em sua imaginação ter a coragem e os poderes do Homem-Aranha. Ou será que acontece um processo inverso? O nerd se identifica com a ausência de poderes e coragem e projeta a vida do comum Parker, buscando um dia ser fotógrafo como ele ou jornalista como Clark Kent?. São as semelhanças ou as diferenças que nos atraem? Essa questão vem norteando os relacionamentos humanos durante os tempos. Nunca chegou-se a uma conclusão. Mas os estudos mostram que uma das grandes razões de sucesso das narrativas heróicas é a utilização de arquétipos. Nos quadrinhos podemos encontrar vários deles. Já vimos aqui que em vários quadrinhos, o que faz a grande diferença, o grande big-bang no cérebro é o desconcerto que certas cenas nos oferecem. São as obras quebrando nossas projeções e identificações. Quando o leitor de quadrinhos cresce, ele não está mais preocupado em querer ser o Homem-Aranha, …