Essa foi uma das primeiras séries de quadrinhos fora do eixo Marvel e DC que li, claro excetuando-se as infantis, e foi um sopro de vida na minha adolescência nos anos 90. Apesar de uma publicação atribulada no Brasil, passando por quatro editora e mais um escândalo de pirataria e o não-pagamento dos direitos de publicação por uma das editoras, a série é um must-read para qualquer leitor de quadrinhos ou para qualquer “pessoa como eu e você”.
- TRIÂNGULO AMOROSO: David ama Katchoo, que ama Francine, que não ama ninguém. Essa era a chamada que a Editora Abril fez na época de lançamento da primeira minissérie de SiP, ou Strangers in Paradise, como a série é apelidada carinhosamente pelos fãs. Talvez inspirada no poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade (clique aqui), a chamada mostrava o quão complicada seria a vida romântica de nossos protagonistas, mas havia muitas surpresas além do aspecto romântico da vida de nossos heróis.
- INSERÇÕES DO AUTOR: Desde o começo, a história trazia poemas, cifras de músicas, referências a séries, filmes, que foram compiladas em uma edição especial só com esse tipo de inserção do autor. O encadernado Tempos de Colégio começa diferenciando a rotina de Katchoo e Francine quando se conheceram através da música Rock Around The Clock, de Bill Halley and His Comets.
- PASSADO TENEBROSO: Katchoo, ou Katina Choovanky, a mocinha barra pesada do trio, além de ser uma talentosa pintora, teve envolvimento com o crime. Isso faz com que a história tome um teor de aventuras e, por vezes, um teor trágico conforme vamos nos embrenhando nas atitudes radicais de Katchoo.
- QUADRINHO INDEPENDENTE: Depois de Cerebus, de David Sim, Estranhos no Paraíso de Terry Moore é uma das séries mais longevas do quadrinho independente norte-americano, com quase cem edições publicadas. A série é capitaneada pelo estúdio do autor, o Abstract Studios, que já foi Antartic Press na primeira fase da revista.
- “PESSOAS COMO EU E VOCÊ”: Esse era o mote de vendas de outra editora. Claro que Katchoo e Francine não são nem de longe pessoas normais, e nem são que “nem eu e você”, porque pessoas normais não tem história, como já falei aqui. Mas essa foi a forma que encontraram para dizer que eles não sofrem aventuras épicas no espaço ou em outra dimensão. Seus problemas são reais e podem acontecer com “eu e você”.
- O QUADRINHO CERTO PARA AGRADAR AS MENINAS: Desde o Ensino Médio, muitas amigas minhas sofreram nas minhas mãos sendo importunadas para ler quadrinhos. O que eu sempre indicava para elas ler? Estranhos no Paraíso! Por quê? Porque fala de relacionamentos e se adequar ao mundo. Mas também tem humor, tem desenhos legais, tem poema, tem romance. Meninas geralmente não curtem porradaria de super-heróis e são mais interiorizadas e sentimentais, buscando conflito, mas não o conflito externo que se resolve com socos e pontapés, mas o conflito interno, que se resolve com palavras. E é isso que SiP apresenta para todos nós. Mas tem porrada também, vai.
- FREDDIE FEMUR: Existe um personagem aqui no Rio Grande do Sul chamado Sofrenildo, criado pelo falecido e memorável cartunista Sampaulo. É um personagem acometido de todos os desastres que podem ocorrer com ele e, por isso, é um personagem muito engraçado. Freddie Femur é um desses Sofrenildos, mas ele está em SiP. Ele é o ex-namorado de Francine, que sofreu o diabo com ele. Agora, o destino – ou Katchoo – está dando um jeito para que ele sofra o mesmo.
- HUMOR: Como você pode notar, o humor é uma parte essencial de Estranhos no Paraíso e isso é garantido pela parte de Francine. Ela é sonhadora, mas também muito desastrada. Foi através de um desastre que aconteceu durante uma peça no colégio, que Francine e Katchoo se conheceram. E a peça era intitulada “Estranhos no Paraíso”. Mas o Humor não para por aí. Existem muitas retratações da imaginação das personagens, como por exemplo em uma história em que Francine é Xena e Katchoo é Grabrielle, o papel contrário das duas nas histórias de SiP.
- IMAGE COMICS: É claro que uma obra como Estranhos no Paraíso, tão bem elaborada, não iria ficara fora das vistas das grandes editoras. Foi por isso que, por um tempo SiP foi publicada pela Image Comics, no selo WildStorm de Jim Lee. Entretanto o acordo não foi tão recompensador para Moore, que queria sua série independente e, por isso, ela voltou a ser publicada pelo selo da Abstract Studios.
- PRÊMIOS: Estranhos no Paraíso é uma série multipremiada. Recebeu o Eisner Awards, o Oscar dos Quadrinhos, em 1996 como a melhor história serializada por Sonho com Você, o segundo arco. Também recebeu o National Cartoonists Society Reuben Award por melhor quadrinho em 1997. E recebeu o reconhecimento da Associação Americana de Gays e Lésbicas, o prêmio GLAAD Award por melhor quadrinho em 2001. Viu, eu não falei, mas existe gayzice nessa história também.
Parando para pensar na minha escrita, Estranhos no Paraíso teve uma forte influência nas minhas temáticas literárias, uma vez que meu livro Loja de Conveniências (para conhecer clique aqui) tem muita coisa parecida com SiP. Se você gostou de um vai gostar do outro, eu garanto. Mas dê uma chance para SiP, ainda devem estar nas livrarias os encadernados publicados pela HQM Editora.
A música Stranger in Paradise, que já foi interpretada por nomes como Tony Bennet e Sarah Brightman é do musical Kismet (1953) e que virou filme em 1955, talvez seja a inspiração para a peça de Estranhos no Paraíso. A música você pode conferir abaixo e, mais abaixo o poema de Drummond:
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Li sem pretensão, esperando o possível. Terminei estarrecido, pois me deparei com o impossível. Terry Moore é genial; assim como Alan Moore e Neil Gaiman. Eles são, simplesmente, responsáveis pela dramaturgia nas HQs.
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SiP é sensacional, indico pra todo mundo. pena que foi descontinuado, pela milésima vez no Brasil… Abs!
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Tenho muito interesse. Enquanto professor de Literatura, sempre busquei quadrinhos fora da temática super-heróis para levar à sala de aula. Vem dando certo.
O primeiro volume saiu (total de 5, né?), mas com um preço que não cabe no meu orçamento… então, o jeito é ficar nas mãos da Amazon por uma grande promoção…
=(
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Eu seimplesmente AMO essa série. Vou o primeiro quadrinho que me alertou para as possibilidades da mídia. Além disso lida muito bem com a diversidade, no caso, o amor de Katchoo por Francine. Ainda não peguei o primeiro volume, mas acho que está um preço bem ok levando em consideração outras coisas q tem no mercado. Abraços! =)
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