O primeiro filme erótico do mundo data de 1915. Chamado Free Ride ele era lançado em bordéis 20 anos depois do primeiro filme dos irmãos Lumiére. Esses filmes eram chamados stag films (algo como “filmes para rapazes”) e tinha duração de 7 a 15 minutos. Na década de 30 com a fetichização de Hollywood (não estou falando DESSE tipo de fetiche) e o grande interesse pelas estrelas cinematográficas e o grande interesse em ver essas estrelas nuas e fazendo sexo entre si fez com que as Tijuana Bibles – as Bíblias de Tijuana – cumprissem esse papel.
Não demorou muito para sobrar até para a Disney, com a famosa cena da Orgia Disney que reproduzo (han, han!) aqui. As Tijuana Bibles, ou os Catecismos, como ficaram conhecidas aqui, eram do tamanho de uma palma. Ok, talvez por isso que você, safadjeenho, pensou. Mas a grande razão era que podiam ser escondidas facilmente no meio de revistas e jornais e serem vendidas em bancas de jornais – ainda que como um tráfego de drogas – despercebidamente.
Geralmente os artistas dessas pequenas obras de arte da pornografia eram desconhecido. Já, já falo de uma grande exceção brasileira. As Tijuanas Bibles costumavam unir sexo à comédia, como nossas tradicionais pornochanchadas. Nelas, tudo era permitido, e havia muito conteúdo lá capaz de chocar santarrões do própria século XXI. Por exemplo, quem condena cenas de sexo entre personagens de desenhos animados. Amigo, aí que você se engana, essa é a regra 43 da internet: “se tal coisa existe, haverá pornografia sobre ela”. Essa devia ser também a regra número um das Tijuana Bibles.
Pra começar, Pafúncio e Marocas, da tira homônima no Brasil e com o nome de Bringing Up Father (!) nos EUA, eram alguns dos personagens favoritos das Tijuana Bibles no início. Branca de Neve e Betty Boop eram algumas das preferidas. Mas também atores como Chaplin, Clark Gable, John Wayne, Joan Crawford e Batte Davis estavam lá para o deleite de marmanjos (e talvez algumas mocinhas liberais). Haviam também personas famosas como Al Capone e cowboys do velho oeste. A personagem Sally Júpiter, a Espectral de Watchmen também rendeu muitas Tijuanas Bibles ainda que dentro da história de Alan Moore. E se a espinafre de Popeye o fazia mais forte, por que não aumentar seu hã… vigor… sexual?
Will Eisner e Joe Shuster foram autores anônimos da Tijuana. Mas o autor brasileiro mais célebre das Tijuana Bibles, ou melhor, os Catecismos brasileiros, foi Carlos Zéfiro, a alcunha do escrivão Alcides Caminha que, nas horas vagas entre um serviço e outro, produzia essas jóias da cultura popular.
Primeiro eu queria elucidar a origem do termo Catecismo. Assim como as Bibles era uma ironia quanto a educação sexual dos jovens meninos que, talvez de alguma forma aprendiam sobre como fazer sexo com aqueles livrinhos. Carlos Zéfiro foi muito famoso na época dos lançamentos dos catecismos, mas seu alter-ego Alcides Caminha, não. Ele ficou anônimo até o início dos anos 90, poucos meses antes da sua morte. Os números de vendas de cada catecismo de Zéfiro fariam livreiros babarem (e não por causa da pornografia): 30 mil exemplares. Estima-se que Zéfiro produziu mais de 800 histórias diferentes de sexo em quadrinho com os mais diferentes temas. Muitos dos catecismos chegaram a ir parar no Uruguai e na Argentina.
O mais legal dessa história toda de catecismos e Carlos Zéfiro é que em 1996 as artes de suas obras ilustraram o design gráfico do álbum Barulhinho Bom, da cantora brasileira de MPB Marisa Monte. Foi assim que eu conheci o trabalho de Carlos Zéfiro. O mundo porém, conheceu Alcides Caminha em uma reportagem de novembro de 1991 da revista Playboy brasileira assinada pelo seu então editor, Juca Kfouri. Dizem ainda que Caminha escreveu a letra de dois sambas de Nelson Cavaquinho chamados a Notícia e a célebre A Flor e o Espinho.
A editora Peixe Grande publicou algumas coleções de Tijuana Bibles intutuladas Quadrinhos Sujos (2 caixas) e Quadrinhos Sacanas, que ainda devem estar em circulação por aí. Já a editora Cena Muda publicou por volta de 2007-2008 Catecismos de carlos Zéfiro tentando emular o formato e o papel que eram vendidos na época. Mas se você ficou curios@ e quer “ler” os catecismos e as tijuanas, abaixo vão links e também um vídeo da música A Rosa e o Espinho, na voz de Paulinho Moska.
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