10 Motivos, Análises, atualidades, destaque, fique de olho, listas, literatura, mercado, quadrinhos, Quadrinhos Comparados
Comentários 2

10 Sugestões Sobre Como Formar Novos Leitores de Quadrinhos

Vai e volta surgem teorias apocalípticas que o mercado de quadrinhos vai acabar. Agora estamos no olho do furacão, quando a teoria apocalíptica não é só que o mercado de quadrinhos vai acabar, mas que todo o mercado editorial vai sofrer um colapso e se adaptar para as novas gerações. No meio de tanta mudança, como amealhar novos leitores para publicações? E publicações de quadrinhos? Sabemos que novas gerações de leitores são a motivação que vai manter o mercado para os mais velhos. Mas os mais velhos também têm de ter consciência que para o mercado ser mantido, ele precisa mudar. É a velha “mão invisível” e a lei da oferta e da procura de Adam Smith se fazendo valer no capitalismo em que estamos encerrados. Neste texto vamos discutir possibilidades para que o mercado da leitura de quadrinhos se renove.

A inspiração para este post veio da coluna de Pedro Almeida, no site do Publishnews, em que ele fala do mercado editorial como um todo. Eu vou falar especificamente do mercado de quadrinhos, pegando ideias do Pedro, mas sem plagiá-lo. Plágio é feio, amiguinhos! Não faça isso em casa e nem com a supervisão de um adulto. fazer coisas escusas com supervisão de adultos vamos deixar para os políticos de Brasília, néam?!

SUGkids

  1. APRENDENDO NAS ESCOLAS

Pode não parecer, mas as escolas e até as universidades, em seus vestibulares estão cada vez mais acolhendo os quadrinhos. Já era praxe vestibulares trazerem tirinhas, mas hoje em dia alguns quadrinhos constam das leituras obrigatórias de diversas universidades conceituadas do sistema público e do privado. Existia o PNBE (Programa Nacional Biblioteca-Escola), que dedicava parte do fundo para quadrinhos. bem questionáveis, é verdade, mas ainda quadrinhos. O fato é que está acontecendo uma virada na educação através dos quadrinhos.

SUGsmallvile

Os batidos e mofados quadrinhos que abordavam temas históricos e ensinavam ciências através da nona arte estão sendo deixados de lado para quadrinhos autorais, literários, autobiográficos, que conversam sobre assuntos da atualidade. Minha professora do mestrado disse que pediram na sala do seu neto que os alunos lessem Fun Home, de Alison Bechdel na escola, quadrinho sobre o qual estou fazendo minha dissertação. O quadrinho, autobiográfico, aborda a construção da identidade homossexual e está bem longe dos formatos antes utilizados em sala de aula. Pelo contrário se aproxima bem mais é do gênero literário.

SUGteaching

  1. EDUCAR OS PROFESSORES

Para levar esses quadrinhos para a escola, o papel do professor é fundamental. Por isso, as editoras devem oferecer oficinas de como os professores podem utilizar quadrinhos na escola são imprescindíveis, da mesma forma que muitas editoras fazem congressos de livros didáticos. É preciso revelar para muitos professores, desacostumados com os quadrinhos – não com sua leitura, mas utilização como ferramenta – o potencial deste material e as atividades que podem ser propostas com os mesmos. Tenho vários amigos, professores de história, geografia, português, literatura e, pasmem… matemática (como o Vinícius do canal do YouTube 2quadrinhos) que utilizam e recomendam a utilização de quadrinhos como ferramenta de educação.

SUGschool

As gerações estão mudando. Enquanto gerações anteriores torciam o nariz para quadrinhos, as novas gerações de professores estão mais receptíveis a eles. Tive o prazer de ministrar como estagiário do mestrado um semestre da disciplina de Laboratório de Ensino e Prática da História, com a Professora Dra. Cleusa Graebin para alunos da graduação de História. Entre muitas das ferramentas educacionais que usamos na aula, estavam os quadrinhos. Ferramentas lúdicas que podem fazer as séries básicas tomarem gosto pelo conhecimento, saindo daqueles formatos quadrados de exposição e leitura que fazem alunos odiarem suas aulas. Todos os alunos da cadeira, que incluíam algumas meninas da Pedagogia, acharam bastante válida a utilização dos quadrinhos em sala de aula como uma forma de enriquecer suas possibilidades de ensino. Também ministrei uma palestra na Semana da Pedagogia da Universidade LaSalle sobre utilização dos quadrinhos em sala de aula e foi muito bem recebida pelos alunos, que comentaram e se empolgaram com as possibilidades educativas da arte sequencial.

SUGhighschool

Ou, da forma como Pedro Almeida fala para uma professora, conforme relato da sua coluna: “Os livros que os jovens estão interessados não entram em compras governamentais. Se a senhora esperar receber esses livros de graça, nada irá mudar. Continuará fracassando na tentativa de formar leitores, oferecendo Guimarães Rosa ou Carlos Drummond de Andrade em sala de aula”. Por isso, talvez, o PNBE acabou fracassando, as editoras não produziam livros pensando no que o aluno iria gostar, mas no que o professor e os professores avaliadores do governo iriam comprar e aprovar. E assim surgiu uma geração de adaptações literárias de qualidade bastante duvidosa no Brasil.

SUGdigitalfirst

3. PRIMEIRO NO DIGITAL

A forma de se apreciar os quadrinhos estão mudando. Nos Estados Unidos, o digital, junto com as graphic novels já fazem parte considerável das vendas de quadrinhos. Claro, ninguém está disposto a pagar por edições no digital. Mas e que tal se oferecesse a leitura no digital antes e, mais tarde, a pessoa recebesse um exemplar lindo e novo na sua casa, numa venda casada de conteúdo e fisicalidade. Esse é tal sistema figital, que une o bom do físico com o prático do digital.

SUGdigital

Vale dizer que, muitas das revistas de super-heróis americanas que não sustentavam uma periodicidade no físico, mas vendiam muito bem quando compiladas em encadernados. É o caso de personagens femininas como Ms. Marvel, Garota-Esquilo e Garota da Lua & Dinossauro-Demônio. Quadrinhos que possuem um apelo mais hipster e feminino costumam vender melhor como histórias completas e em pontos de venda diferentes dos que tem apelo tradicional masculino. Por isso, muitas séries da Marvel e da DC Comics são publicadas digitalmente em fascículos e, depois, publicadas em compilados fisicamente, reduzindo, assim os custos da editora com preparação de originais, editoração e tradução, se for o caso.

SUGmuseu

  1. DIVERSIDADE (DE E NA PUBLICAÇÃO)

Por mais que digam que não, DIVERSIDADE VENDE. Ok, talvez não venda praquele tiozinho da Sukita rançoso e conservador que acha que gibi tem de ser como ele conheceu quando tomava Nescau com bolinha vendo os Super-Heróis Shell. Mas as pessoas que nunca viram a si mesma nos quadrinhos e, por isso, não conseguiam se identificar com os personagens, brancos ricaços gastando seu dinheiro em traquitanas para combater supervilões tresloucados distantes léguas da realidade – como o Batman -, agora podem achar algo para elas. E, mais uma vez, por isso agora esses quadrinhos relevantes são importantes para a educação. Pois ao invés de eles alienarem, como a maioria deles faziam antigamente, eles dão visão de mundo e criam consciência crítica nos seus leitores. E então, para agradar o Tio da Sukita, o Moderninho da Sabri, as feminazis, os gayzistas, os negros das quebradas, as crianças da creche, o avô que gosta do Mandrake, é preciso pensar em diversidade de publicações. E por diversidade não falo só de conteúdo, mas de formatos. Como o digital, o econômico, o luxuoso, com poucas páginas, o pé de mesa…

SUGhieraquia

  1. ABOLIR A HIERARQUIA

Jovens acham livros mais maduros e densos chatos. Adultos, em sua maioria, desdenham e fazem pouco de literatura young adult e de quadrinhos. Isso acaba criando uma hierarquia e uma dificuldade em criar público novo para todas as áreas, sejam as mais ecléticas ou as mais eruditas. Quem torce o nariz para muita coisa quer dizer que realmente não entende uma pataca sobre aquilo que está trabalhando, estudando, escrevendo, etc. Simplesmente porque não conhece e tem um preconceito ridículo.

Pedro coloca o seguinte “Se hoje temos leitores na faixa dos 30 anos de idade foi basicamente graças a Harry Potter e não ao que foi ensinado nas salas de aulas. Se estes leitores vão ler obras mais literárias, mais clássicos quando estiverem lá pelos 40/50, não deve ser nossa preocupação”, e adiciona “Lembre-se: a criança de hoje já não acha Harry Potter tão sensacional quanto a criança dos anos 2000”. A hierarquia, por mais que os editores se considerem eruditos bibliófilos, acadêmicos laureados, só prejudica aos editores.

SUGoscar

Assim, como vimos com o Oscar que, para sobreviver teve de criar a categoria ridícula “Filme Popular”, porque insiste em fazer a velha separação da Escola de Frankfurt de “alta e baixa cultura”, as premiações de livros e as editoras vão ter que abraçar os novos leitores, seus livros de biografias de youtubers, álbuns de figurinha da Copa do Mundo, diários para preencher, porque é isso que vai cativar os leitores. E o melhor (ou pior) é que isso vende que nem água no deserto. Pedro completa: “O correto é nunca criticar nenhuma leitura de qualquer pessoa. Essa hierarquização de valor de leituras só seria aceitável se fôssemos um país de leitores. Somos o oposto disso”. Assim, temos que levar em conta que não podemos subestimar o leitor, e muito menos superestimá-lo. Lição básica de construção de texto das oficinas literárias.

SUGautor

  1. INTERAÇÃO COM O LEITOR

Como estou inserido de certa forma no mercado editorial, eu vejo muita movimentação das editoras para levarem os seus autores de livros literários e não-ficcionais para lá e para cá no Brasil, em escolas, eventos não relacionados com o mercado editorial e diversas outras ações. Não vejo o mesmo acontecer com autores de quadrinhos, até das mesmas editoras. Talvez porque os editores acreditem que quadrinhos não tem o que comunicar, o que discutir, ou adicionar alguma coisa na vida do público que não seja o entretenimento puro, ao contrário de livros com L maiúsculo. O que, convenhamos, é outro preconceito besta e ridículo. Muitos quadrinhos geram mais receita para as editoras do que os tais livros com L maiúsculo, então porque seu autores não podem também serem tratados como autores com A maiúsculo e também frequentar escolas e outros espaços para jovens leitores?

Pedro Almeida sugere o seguinte para professores formadores de alunos: “Seguramente há um autor nacional que escreve para jovens bem próximo de sua região. Não conhece? Pergunte nas livrarias locais, certamente alguns já fizeram lançamentos lá. Eventos geek e nerd são bons indicadores de livros e autores”. Se para o estudioso de formação dos leitores, o direcionamento do público em formação de jovens leitores está nos eventos geek e nerd, porque, então, virar a cara para os quadrinhos?

SUGdegrau

  1. TEORIA DO DEGRAU

Já abordamos a teoria do degrau para os quadrinhos neste post. Mas na literatura ela funciona muito bem. Leitores das séries básicas lêem um tipo de livro, leitores das séries avançadas lêem um diferente tipo, leitores do ensino médio têm as leituras do vestibular e os universitários também tem seu gosto. O mesmo pessoas que só trabalham e as criancinhas da pré-alfabetização. Então, porque não trazer os quadrinhos para o currículo como um teoria da escada? Numa escalada de complexidades e temas da mesma forma que é feita com os livros. Títulos de quadrinhos para isso, existem de monte, basta as escolas adotarem e acolherem Então, as editoras devem fazer seu papel e planejar encontros com gestores de escolas e professores para que, ao menos tenham a chance de conhecer essa disponibilidade de obras e de possibilidades de exercícios envolvendo esta mídia. Se uma editora conquista o coração do leitor desde pequeno, tem boas chances de acompanhá-lo a vida inteira, mesmo quando for para presentear seus filhos com novos livros e quadrinhos que ele mesmo nunca conheceu.

SUGliterature

  1. QUADRINHOS NÃO SÃO LITERATURA

Já falamos que quadrinhos não são literatura neste post. Quadrinhos são a sua própria coisa. Quadrinhos nem livros são exatamente, a não ser por sua fisicalidade. Quadrinhos são uma mídia, um sistema à parte. Por isso, se engana que quadrinhos educativos são somente aqueles que lidam com adaptações literárias ou se aproximam da literatura. Quadrinhos também são ferramentas educacionais da mesma forma que podem ser os filmes, as fotografias, o desenho, os dioramas, os cartazes, os slides de Power Point. Ou seja, eles são uma forma diferente de apresentar os assuntos da sala de aula de uma forma menos entediante, mais lúdica.

SUGmonicaE isso não se restringe apenas às ciências humanas. Existem quadrinhos que ensinam cálculo de engenharia, física quântica, biologia. Um bom exemplo é a série Você Sabia Com a Turma da Mônica, que já abordou inúmeros temas que são trabalhados na educação básica. Pedro Almeida completa meu raciocínio dando o viés dos livros: “Você não está formando pessoas de humanas, mas de exatas e biológicas também. Um aluno com inclinação para tecnologia irá gostar mais de fantasia; aqueles ligados em letras clássicas e pedagogia tendem a gostar de poesia e prosa poética; uma aluna inclinada a biológicas pode gostar de ficção científica, policiais, suspense, aventura. Oferecer apenas romances literários irá transformar sua aula num tédio para as pessoas que não tem interesse por humanas. E terá contribuído para a redução do número de leitores”.

SUGrockshow

  1. COMUNICAR COM QUEM, QUANDO E ONDE DEVE SER COMUNICADO

Você não vai vender um livro de informática num culto evangélico. Você não vai anunciar um livro espírita num canal de YouTube. Você não vai compartilhar posts sobre um livro que ensina a desenhar num grupo de donos de cães e gatos. E o mesmo funciona para quadrinhos. É aquela palavrinha mágica da publicidade: adequação. Você não vai vender quadrinhos num show de rock. As pessoas lá até podem gostar de quadrinhos lá, mas como elas vão fazer headbang, beber e segurar uma revista em quadrinhos? Sem falar que no escuro, ninguém pode ver você ler. E também existe a janela de tempo. Você não vai vender um quadrinho sobre a Páscoa no Natal e nem vice-versa. Ok, eu estou fazendo uma exagerada hipérbole de exemplos aqui. Mas mesmo nas pequenas decisões podem trazer grandes impactos, para o bem e para o mal. Tem que saber aproveitar as estratégias e ações na janela de tempo e lugar estratégicos. Senão, babaus, a oportunidade passa e os quadrinhos encalham. Os leitores em formação, que você poderia ter atingido com uma bela jogada de marketing, podem ser perdidos por causa de adequação.

Mas também existem janelas que se abrem que você pode manter fechadas. Uma vez fui chamado para vender meus quadrinhos em uma parada gay. Não conhecia o evento, nem o local e nem o tipo de público que ia lá. Mas eu sabia que a atração principal seria um show da Ludmilla. Chamei um monte de amigos dos quadrinhos e da literatura gay e o resultado foi que ninguém vendeu uma pataca. Ou seja, mesmo que a janela se abra para o público que conversa com você, pode não ser o momento certo. Afinal, alguém lê ou compra quadrinhos e livros num show de funk, que é aberto ao público e que as pessoas só estão pensando em se agarrarem? Nunca vi disso. Mas o meu coraçãozinho abraçador de causas dizia que sim. Mas meu cérebro frio e lucrativo dizia: “vai ser furada, seu idiota, tu vai se dar mal”. E em negócios, sempre ouça seu cérebro.

SUGoxygen

  1. OXIGENAR O MERCADO

Assim como o mercado de livros tem seus clássicos, os quadrinhos também tem os seus. Aqueles livros que estão sempre nas estantes e que todos consideram “leitura obrigatória” para o fã de quadrinhos, embora a grande maioria dos ditos fãs de carteirinha não leu a metade deles. Contudo, essa idéia de clássico, gera uma petrificação nas leituras que devem ser adotadas e naquelas que têm de ser abandonadas. Às vezes é preciso ler coisas ruins para saber o que são as coisas boas. O gosto pela leitura se forma que nem o paladar. Quanto mais coisas se experimenta, mais se abre o leque de possibilidades. Claro, existem leitores de quadrinhos que possuem “paladar de criança”, porque “comeram” sempre a mesma coisa desde que eram pequenos. Não se permitiram se aventurar por novas leitoras, autores e gêneros de quadrinhos. Isso explica porque, no Brasil, aparentemente só o mercado de super-heróis em quadrinhos é levado a sério como algo digno de ser colecionado e também seja o mercado que mais dinheiro e vendas movimenta.

SUGclasics

Já escrevi um post, baseado no livro de Ítalo Calvino, Por que ler os clássicos? tentando entender o que faz de um quadrinho clássico. A conclusão foi a de que é ridículo alguém dizer que “esse quadrinho é um novo clássico”, ou “está surgindo um novo clássico”. Se uma coisa atual é clássica ou não, não somos nós, habitantes do hoje que vamos julgar isso. Mas os seres do amanhã, que poderão julgar se a tal obra envelheceu bem e influenciou as gerações anteriores. Assim, não existe “novo clássico”, porque todo clássico é, inerentemente, velho; não existe um “clássico que surge”, porque clássicos ressurgem, eles escrevem na pedra a sua história e ela fica incrustada. Por isso, essa mentalidade de que isso ou aquilo é um clássico, tem que responder “Quem disse, Berenice?”, e mandar a pessoa comprar lá um cosmético para sua cara de pau. Essas suposições só prejudicam o mercado, como já vimos na bolha especulativa dos quadrinhos dos anos 90.

Bem, mergulhadores, aqui estão minha dez sugestões. Não sou especialista em mercado editorial, mas sei algumas coisas ou outras sobre quadrinhos, sobre marketing e publicidade e tenho acompanhado o mercado de quadrinhos de longe por pelo menos 25 anos e o mercado editorial de perto por pelo menos 10 anos. Algum estofo e conhecimento eu tenho. É agora que você me pergunta: “Quem disse, Berenice?!”. Abraços submersos!

2 comentários

  1. Fabio Marmitt diz

    11 – Dê quadrinhos de presente.
    O Dia das Crianças está chegando, vamos todos dar de presente revistas em quadrinhos. Tem para todos os gostos e idades.

    Curtir

Deixe um comentário, caro mergulhador!

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.