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Trovão Azul: O Super-Herói Gay de Mark Millar

Trovão Azul (Blue Bolt) é um personagem criado por Mark Millar, Frank Quitely e Wilfredo Torres como um dos personagens das sagas O Legado de Júpiter e O Círculo de Júpiter. O mais interessante sobre o super-herói Trovão Azul é que ele se encontra em um período histórico dos Estados Unidos em que a situação dos homossexuais, homens ou mulheres, era bem peculiar: o final dos anos 1950 e início dos anos 1960, portanto, antes do movimentos civis homossexuais americanos que tiveram seu início marcado pela rebelião de Stonewall. Neste post vamos falar um pouco mais sobre esse personagem e sobre o contexto em que ele atuou com os heróis de O Legado de Júpiter, na equipe chamada A União.

Já falamos aqui no blog que a primeira parte de O Legado de Júpiter é um dos melhores quadrinhos já escritos pelo roteirista de quadrinhos escocês Mark Millar. A segunda parte, de O Legado de Júpiter, entretanto, na vontade se se transformar em uma batalha épica de super-heróis, acaba se perdendo em seu intento. O Círculo de Júpiter, por sua vez, é uma prequel para O Legado de Júpiter, mostrando os desafios e intempéries que os heróis da equipe A União precisaram passar para adquirirem o status que têm em O Legado de Júpiter. Tratam-se de histórias que revelam mais a personalidade e cotidiano dos Super-Heróis da União, do que exatamente histórias em que enfrentam forças do mal. Nesse sentido, O Círculo de Júpiter se assemelha mais ao Astro City, de Kurt Busiek, Alex Ross e Brent Anderson, série que também já falamos aqui no blog.

Ao fazer um quadrinho que envolve a mística dos super-heróis americanos e sua influência naquele país, Mark Millar quis fazer uma homenagem à esta nação, afirmando que possía até uma bandeira americana em seu quarto escocês quando era criança. Em declaração para o site Comic Book Resources, Millar chegou a dizer o seguinte sobre esse aspecto da história em quadrinhos:

É um país que, durante meu crescimento, sempre associei com as coisas cada vez maiores e melhores, e, portanto, vê-las se contraindo é realmente bastante aterrador. Isso serviu de inspiração para o pano de fundo desta história. Os super-heróis são impotentes diante dessa complexa situação, e é aí que as coisas começam […] Essa história é minha carta de amor para a América. Essa idéia de democracia e todos com a mesma opinião é tão fundamentalmente decente e algo que devemos valorizar […] Para mim, os Estados Unidos sempre foram ligados também a super-heróis. Talvez seja porque a Mulher Maravilha e o Superman estejam usando a bandeira americana. Parece uma boa analogia amarrar o final do Império Americano com esse grande e grandioso crepúsculo da história dos super-heróis.

Agora vamos falar sobre o Trovão Azul, mais especificamente. Recomendo, entretanto, assistir ao filme “De-Lovely: Vida e Amores de Cole Porter”, para que os leitores do blog possam ter uma noção do contexto dos Estados Unidos ainda maior do que aquela que passarei nas minhas explicações. O Trovão Azul é um cirurgião neonatal do Hospital Presbiteriano de Los Angeles chamado Richard Conrad, que possui um uniforme azul, poder de voar e de disparar raios através de um bastão de sua própria fabricação. Se você quiser associar a origem de seu poder e o fato de ele ser um homossexual enrustido com a necessidade de segurar um bastão para que seu poder se acione, fique à vontade.

Richard também possui conexões com a alta roda de Hollywood, incluindo a atriz Katherine Hepburn, que durante uma festa em sua mansão, lhe apresenta o seu jardineiro para que Richard fique “mais alegre”. É nesse momento que um espião de J. Edgar Hoover, o diretor da CIA, faz algumas fotos de Trovão Azul aos beijos e carícias com o Jardineiro de Hepburn. Richard Conrad é famoso, entre seus círculos, por sustentar diversos gigolôs, entre eles alguns michês. Hepburn também conversa com Trovão Azul sobre os “casamentos lavanda”, muito comuns em Hollywood naquela época. Esse tipo de casamento seriam os velhos casamentos de interesses em que uma pessoa homossexual se casa com alguém heterossexual do sexo oposto para que viva uma fachada, para disfarçar o aspecto homossexual da identidade de alguém famoso.

Esse tipo de estratagema era algo muito comum nos círculos de poder dos Estados Unidos em uma época que ficou conhecida como Pré-Stonewall, ou seja, anterior ao acontecimento que ficou conhecido como Rebelião de Stonewall, acontecida em junho de 1969 em Nova York, e foi um marco na busca pelos direitos civis das pessoas queer. O fato de Stonewall e outros movimentos civis dos direitos queer estarem sendo discutidos pela população ajudou a desmistificar a homossexualidade para a sociedade norte-americana. Também auxiliou muitos homossexuais a se assumirem perante a sociedade, fazendo com que muitos dos “casamentos lavanda” fossem desnecessários, embora esse costume persiste até os dias de hoje.

Na história de Trovão Azul, entretanto, o herói refuta a possibilidade de um “casamento lavanda”, embora comece a ser chantageado pelo diretor da CIA, J. Edgar Hoover acerca de sua atividade como homossexual. Hoover queria usar os poderes de Trovão Azul em benefício dos Estados Unidos e, por isso, achou por bem fazer uma chantagem com ele para que estivesse sob o seu domínio e, assim também ter sob suas asas toda a equipe da União.

Corria à boca pequena, entretanto, que o próprio diretor da CIA, J. Edgar Hoover, também era homossexual e tinha seu braço-direito como amante. Assim, depois de tentar o suicídio, Richard Conrad não se submete às chantagens do diretor da CIA e, magicamente para de ser atormentado por ele. Contudo, é revelado aos leitores no final da história que Hoover também foi manipulado. O super-herói companheiro de equipe de Trovão Azul, o Skyfox, acabou tirando fotografia de Hoover tendo relações sexuais com seu parceiro braço-direito na CIA, resolvendo chantagem contra chantagem e deixando o Trovão Azul ileso e livre da culpa, mantendo uma relação “don’t ask, don’t tell” com seus companheiros de A União, até o fim de suas atividades como super-herói.

Para saber mais sobre a vida de Hoover, assista ao filme J. Edgar, estrelado por Leonardo DiCaprio no papel principal, que conta a vida do diretor da CIA e o aspecto homossexual de sua vida. Círculo de Júpiter não é a melhor HQ de Mark Millar, longe disso, aliás, mas é importante para que os homossexuais de hoje em dia tenham um parâmetro super-heroico do passado de suas existências e perceberem que, nesse sentido, não conquistamos apenas muitos direitos, mas uma pequena quase ínfima aceitação da sociedade se comparado com a época em que éramos silenciados e não tínhamos a chance de protestar por uma existência mais digna. Abraços submersos em pétalas de lavanda!

Melhores e Piores Leituras de Agosto de 2019

Temos quase quarenta, isso mesmo 40, mini resenhas fresquinhas e frescalhonas para você ler agora aqui no Splash Pages. Dizem que agosto é o mês do desgosto e isso pode até lá ser verdade, já que quase dez dessas leituras estão entre as piores do mês. Algumas ficaram num ponto limbo intermediário e foram parar nas melhores porque né, o copo tá quase sempre meio cheio. E tá quase sempre meio cheio porque se não tiver, como levar a vida com ele meio vazio? Não dá, né? Então encham o seu copo de cerveja, hidromel, Pepsi ou guaraná, suco de laranja, leitinho com nescau de bolinha ou o que você quiser e venha acompanhar essas nossas resenhazinhas!

Melhores e Piores Leituras de Julho de 2019

Caros mergulhonautas e splashonados, já é agosto e julho chegou ao final! Então é hora do quê? Do quê? Da nossa listinha esperta de leituras melhores e piores feitas no mês, com diversos tipos de leitura, do europeu ao mangá, do gringo ao nacional, do mainstream ao experimental. Também temos algumas mini resenhas sobre livros teóricos sobre quadrinhos. São mais de quarenta mini resenhas este mês, então pegue sua pipoquinha para se preparar para ler essa enorme lista de leituras!

30 Personagens dos Comics Baseados em Palhaços (e Que Não São o Coringa e a Arlequina)

Os palhaços sempre estiveram presentes na cultura popular, misto de humor com terror, também são estrelas de inúmeros filmes perturbadores e de horror. Alguma pessoas desenvolvem uma fobia por palhaços que se chama coulrofobia. Eles se popularizaram com as apresentações da Comédia Dell’Arte na Itália, onde personagens como o Polichinelo e o Arlequim eram os mais populares. No carnaval de Veneza, as máscaras de Pierrot e da Colombina são algumas das mais populares. E, claro, nossos queridos quadrinhos também absorveram essas criaturas na forma dos populares e vilanescos Coringa e Arlequina. Mas existem mais personagens nos quadrinhos de super-heróis baseados em palhaços e você vai ficar sabendo dessa palhaçada agora mesmo, lendo este post.

Os Melhores Quadrinhos da Vertigo Que Li em 2018

Vozes veladas vertiginosas vozes! Caros mergulhadores, chegou a vez das melhores leituras do selo Vertigo da DC Comics feitas em 2018. O ano que passou não foi muito generoso com a Vertigo aqui no Brasil, que pegou a entressafra de títulos entre a última encarnação do selo e a nova, agora com o nome DC/Vertigo. Também tivemos várias séries de curta duração que deveria ter durado mais e outras, infelizmente, que deveriam ter durado menos. Mas não chore, caro mergulhador vertiguento, dias melhores virão, já que a DC Comics está fortalecendo seu selo com muita séries interessantes.

Melhores e Piores Leituras de Julho de 2018

O mês de julho foi bem propício para ficar em casa, debaixo das cobertas e lendo um bom dum gibizinho, não é mesmo mergulhadores? Até por que, se pudéssemos, não faríamos mais nada nesse tempo modorrento. Ah, e também teve a Copa, que não deixou as pessoas quietas e fez com que todo mundo se agitasse, gostando ou não de futebol. Infelizmente ninguém passa incólume pelo campeonato mundial do esporte bretão. Então, esse mês trazemos mais de 25 mini resenhas para vocês se divertir com bons quadrinhos e se afastar das más leituras. Em julho, em especial tivemos muitas más leituras, como você vai ver. Mas você vai ver muito mais coisas aqui, eu prometo!

[RESENHA] X-Men: Chega de Humanos, de Mike Carey e Salvador Larroca

X-Men: Chega de Humanos é apenas a segunda graphic novel que a Marvel publica dedicada aos filhos do átomo. A primeira é a amplamente conhecida Deus Ama, o Homem Mata, de Chris Claremont e Brent Anderson, que aborda o tema do preconceito com os mutantes insuflados por um televangelista humano. Esta primeira graphic novel também serviu como base para o filme X2, o melhor de todos nas franquias X, na opinião de muita gente exatamente por abordar diretamente o preconceito. Com esta segunda graphic novel não poderia ser diferente, porém de um lado mais pró-ativo dos mutantes: a extinção de todos os humanos. A seguir, a resenha completa sobre essa publicação.

Os Melhores Quadrinhos da Vertigo Que Li em 2016

De novo, essa lista contém praticamente relançamentos ou coisas de anos atrás lançadas pela primeira vez aqui. Será que as coisas que estão ficando chatas ou sou eu que estou ficando um velho, chato, exigente e resmungão com os quadrinhos? Que dilema! Bem, vamos lá aos melhores quadrinhos da Vertigo que li em 2016!

As Melhores e Piores Leituras de Março de 2016

Olá mergulhadores! Como foi o coelhinho? Foi um Sansão ou uma coelhada na cabeça? Bem, como é tradição, separei aqui as minhas melhores leituras do mês de março, que também é o mês das mulheres e o mês do meu aniversário e do aniversário do blog! É isso aí, completamos 8 anos no dia 15 de março! E eu completei… bem, deixa pra lá. Vamos às minirresenhas!

Destaques do Checklist Vertigo/Panini Para Dezembro/2015

Mês de novos encontros e velhas despedidas na Vertigo, mas também de continuidade de séries muito legais. Vamos saber quais são? PATRULHA DO DESTINO: RASTEJANDO DOS ESCOMBROS Quando a realidade não é mais a mesma e tudo é muito estranho para que você conviva com naturalidade no mundo, a quem você deve chamar? À Patrulha do Destino, a equipe mais estranha de todas! Criada nos anos 60, a Patrulha era uma equipe que morria e retornava dos mortos. Quase 30 anos depois, nas mãos de Grant Morrison, a equipe voltava com uma pegada que não é fácil de definir: surrealista, dadaísta, niilista? Bem, o importante que era fora do real e se tornou um dos quadrinhos mais loucos de todos os tempos. É bom frisar que Flex Mentallo também surgiu nas páginas da Patrulha de Morrison!   ASTRO CITY: O ANJO MACULADO Depois de nos brindares com uma história irretocável como Confissão (que você pode ler uma resenha nesse link), Kurt Busiek, Alex Ross, Brent Anderson e companhia nos trazem a história do homem blindado …

5 Equipes Obscuras dos Anos 80

OS NOVOS DEFENSORES – OS HERÓIS MAIS ESTRANHOS DE TODOS! Sim, eu sei que essa é a tagline dos X-Men, mas veja bem, na equipe dos Novos Defensores haviam três deles: Anjo, Homem de Gelo e Fera, sendo o Fera o líder da equipe. Completavam a equipe o feioso Gárgula, a mística Serpente da Lua, a mulher/homem Nuvem, a asgardiana Valquíria. Houveram, claro outros integrantes estranhos, mas o que fazia as aventuras dos Novos Defensores muito legais de se acompanharem eram os roteiros de Peter B. Gillis, um renomado romancista da década de 80. Ele trabalhava os personagens à fundo e ousava trazendo temas incomuns como satanismo, preconceito, transexualidade. Além disso, a série tinha ótimos coadjuvantes como a namorada do Anjo, Candy Southern e o cãozinho Satanás (acharam que foi só a Bruxa do 71 a ter essa ideia?). O fim dos Novos Defensores foi apoteótico: todos os integrantes (com exceção dos mutantes) viraram pedra para salvar nosso planeta. As aventuras deles foram publicadas na revista Capitão América aqui no Brasil. – GS QUARTETO FUTURO …

Cordeiro de Deus que Tirai os Pecados do Mundo: Trinity of Sin: Phantom Stranger – A Stranger Among Us, de Dan DiDio, J. M. DeMatteis, Brent Anderson e Philip Tan

Com a publicação da Guerra da Trindade aqui no Brasil, uma edição da revista do Vingador Fantasma foi publicada na revista da Liga da Justiça. Achei aquela história muito boa e, assim que vi um encadernado importado do Phantom Stranger, não bobeei e usei meu vale para adquiri-lo. Parte da segunda leva das revistas dos Novos 52 da DC Comics, a Panini optou por não publicar suas histórias. Mais para frente, a revista ganhou o epíteto Trinity of Sin, por ser uma leitura básica para a Guerra da Trindade. E digo mais, uma leitura básica para o universo “mágico” da DC Comics. Diferente da origem contada por Alan Moore e Joe Orlando, em Secret Origins # 10, de 1987, dessa vez o Vingador não é um anjo caído. Na verdade, como um integrante da Trindade do Pecado, ele, Pandora e o Questão são os maiores transgressores do mundo. O pecado do Vingador, no caso, foi ter traído o cordeiro por trinta moedas de prata. Então se você sabe um pouquinho sobre cristianismo já deve entender …

O Começo, o Fim e o Meio. Rising Stars: Estrelas Ascendentes, de J. Michael Straczynski e Vários Artistas

Muitos gostam de comparar Rising Stars: Estrelas Ascendentes com Watchmen. Mas não é bem por aí. Apesar da obra ter algumas semelhanças e começar com a premissa: quem está assassinando os Especiais de Pemberton, o rumo que a narrativa toma é muito maior e mais ambicioso que Watchmen. Basta tentar concluir se ela conseguiu atingir seus objetivos. A história de Rising Stars é contada pelo ponto de vista do Poeta, um dos Especiais de Pemberton, crianças superpoderosas que, no momento da sua concepção foram atingidas pela energia de uma bola de fogo que rasgou os céus da cidade de Pemberton, nos Estados Unidos. A partir daí, esses garotos foram doutrinados e controlados pelo governo americano. Straczynski é um escritor famoso. Criou a série Babylon 5, escreveu o roteiros para o filme A Troca (The Changeling), com Angelina Jolie. Nos quadrinhos, já teve em suas mãos as revistas do Homem-Aranha, Superman, Mulher-Maravilha, entre outros. Straczynsky é muito lembrado pelos seus começos. Sempre inicia uma trama com uma premissa instigante. Assim fez com Rising Stars, com Poder …

A História em Quadrinhos de Super Heróis Definitiva

E se eu perguntasse qual seria para você a obra que define o gênero dos quadrinhos de super-heróis? O que você me responderia prontamente? Watchmen? O Cavaleiro das Trevas? Grandes Astros: Superman? Eu discordaria. Não acho que seja nenhuma daquelas. E talvez a resposta surpreenda você. Primeiro vou justificar porque as obras acima não cabem no pressuposto: todas elas sim, homenageam a indústria e a mitologia dos super-heróis, mas todas de certa medida se utilizam da reconstrução do gênero. Elas não reverenciam o gênero em si, mas o refazem, o repensam, refletem. Sim, são muitos RE’s. “A sociedade Ocidental legitimou o invencível Superman, que os serviu quando o sistema era ameaçado por um inimigo invencível. O Batman apareceu quando Dick Tracy não estava mais disponível para lidar com os grandes crimes. O Homem-Aranha se juntou ao elenco de heróis quando nós não éramos mais inocentes o suficiente no que tangia à perfeição dos nossos super-heróis; e o Spirit veio quando deveria haver um caso perfeito de heroísmo que não eraa terá natal de homens e …